O primeiro projeto de Metrô de São Paulo
Operando há quase quatro décadas, o Metrô de São Paulo começou a circular em 14 de setembro de 1974. Embora possa parecer muito tempo, nosso metropolitano é bastante jovem quando comparado a cidades como Nova Iorque, Londres ou até mesmo à vizinha Buenos Aires. O que poucos sabem é que o primeiro projeto de metrô paulistano poderia ter saído do papel quase 50 anos antes, em 1926.
O Tramway da Cantareira:
O serviço a vapor do Trem da Cantareira era consideravelmente deficitário. Para tentar reverter esta situação, o Governo do Estado de São Paulo passou a estudar alternativas de melhorar o sistema, tornando-o atraente aos passageiros e lucrativo.
Outra problema crônico eram as reclamações constantes dos moradores da região atendida pelo ramal, que sofriam com a demora da composição, que passava de duas em duas horas, enquanto os bairros atendidos pelos bondes tinham transporte a cada 15 minutos. No recorte do jornal Correio Paulistano, de 16 de março de 1926, o apelo pela mudança no sistema.
Neste mesmo ano, após intensos estudos do governo sairia o ousado e moderno projeto de eletrificação do Tramway da Cantareira. O São Paulo Antiga encontrou o projeto, veja como ele seria:
A ideia do projeto consistia em substituir totalmente o vapor desde o início do serviço até seu final, em Guarulhos, eletrificando o serviço por completo. Além disso, tinha a ideia de que uma vez eletrificado o serviço iria se conectar com os demais serviços de bonde da capital, tornando o lento transporte da zona norte paulistana rápido e eficiente.
A ilustração abaixo mostra um trecho que seria atendido por pelo menos duas linhas diferentes de bonde, além da linha férrea da São Paulo Railway. A linha mais ao alto seria a do Tramway da Cantareira.
O projeto previa também novas estações pelo percurso, já que boa parte da linha seria suspensa, muito parecida com o que acabou saindo do papel décadas mais tarde com a linha norte-sul do Metrô. A imagem abaixo mostra o estudo de uma estação no Parque D.Pedro II, elevando-se sobre o Rio Tamanduateí. Note que embora em posição diferente da usada na Estação Pedro II atual, o conceito de parada era muito parecido.
Uma das ideias do Governo do Estado era também de estender o ramal de Guarulhos até a cidade de Santa Isabel, o que teria sido algo bastante arrojado para a época. Entretanto, isso nunca aconteceu, nem mesmo na linha a vapor que ia até o centro de Guarulhos e depois até a base aérea de Cumbica este trecho, porém, restrito.
Havia também o interesse do governo de passar a administração do Tramway da Cantareira para a Light, só não ficou claro quem ia arcar com os custos desta obra vultosa, se o governo ou a empresa estrangeira.
O croqui abaixo mostra o quão semelhante o projeto de 1926 era com o sistema atual do Metrô. Impossível olhar para a ilustração e não lembrar da nossa Linha 1 – Azul:
O projeto infelizmente nunca saiu do papel e o ramal da Cantareira continuou sendo um serviço, lento, desatualizado e deficiente até ser desativado na década de 60. Sobre os motivos de que a eletrificação do Tramway da Cantareira nunca virou realidade há muitas explicações, indo desde que não era interessante para a Light ou que não existia verba suficiente para tocar o ousado projeto.
A única verdade é que se este incrível projeto tivesse realmente sido concretizado, a Cidade de São Paulo teria iniciado o Metrô de fato muitas décadas antes e, provavelmente, hoje teríamos muitos mais quilômetros e quilômetros de transporte coletivo eficiente e seríamos uma cidade muito menos dependente do carro. Mas isso, como muitas grandes ideias, ficou apenas no papel.
Fonte: Portal São Paulo Antiga
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