Viagens de bicicleta crescem 50% em periferia da capital



Alex Gomes

Em uma tarde de setembro, um grupo de pessoas no movimentado cruzamento das avenidas Águia de Haia e do Imperador, em Ermelino Matarazzo, estava inquieto. Munidos de pranchetas, faziam anotações frenéticas ao mesmo tempo em que observavam atentamente toda região.

Nos registros, descrições de entregadores, famílias com crianças, idosos, adolescentes… Muitos pedalavam de forma rápida, outros lentamente. Alguns paravam para saber o motivo de estarem sendo observados.

A resposta era que estavam sendo marcados em uma contagem de ciclistas. Mas não havia muito tempo para explicar, porque o fluxo intenso de bicicletas exigia que o grupo não tirasse os olhos do cruzamento.

Ao término da ação ficou claro o motivo do intenso trabalho desses voluntários que se revezaram no local durante um período de 14 horas: eles registram o fluxo de 1.184 ciclistas.

A contagem fez parte do projeto “Transposições Locais – a bicicleta em contextos periféricos”, feita pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo – Ciclocidade e o coletivo de ciclistas Bike Zona Leste, com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo.

O resultado da ação em Ermelino Matarazzo mostrou um aumento significativo do uso da bicicleta na região. Em 2016, outra contagem no local com a mesma duração computou 687 ciclistas. Dessa forma, o crescimento das pedaladas na área foi de 54%.

Como funcionam as contagens de ciclistas

As iniciativas de contagens de ciclistas ocorrem pelo país desde 2008, com a metodologia criada pela associação Transporte Ativo, que atua no Rio de Janeiro com a promoção do uso de modos ativos de deslocamento, como a bicicleta e a caminhada.

Além de contabilizar o número de ciclistas que percorrem um local, também são registradas informações complementares sobre quem pedala, como faixa etária, gênero e tipo de bicicleta utilizada.

“As contagens de ciclistas são muito úteis e eficientes para o planejamento e monitoramento do uso da bicicleta como meio de transporte nas cidades. Além disso, dá visibilidade aos ciclistas que, geralmente, são invisíveis dentro da dinâmica da mobilidade urbana”, explica Tais Balero, da Ciclocidade. “É uma ferramenta de baixo custo e acessível, que promove um envolvimento direto de cicloativistas com a prática da produção de dados relevantes.”

Pedalar em Ermelino Matarazzo

Atualmente, a segurança de quem pedala em Ermelino Matarazzo se dá com 26,12 quilômetros de ciclofaixas e ciclovias. No papel, mais 25 quilômetros são prometidos.

Dos novos trechos que começam a ser feitos, um é justamente na região da contagem que registrou o aumento de ciclistas, na avenida Águia de Haia. Em obras, a nova pista para bikes terá 4.260 metros e ligará a região de Ermelino Matarazzo a Artur Alvim.

Professor de história na rede pública estadual, o ciclista José Eduardo Santos comemora a novidade. Ele utiliza a via todos os dias e já passou por diversos momentos de pânico com ônibus e vans em alta velocidade a centímetros de sua bicicleta.

Em 2015, Santos chegou a entregar um pedido a CET solicitando a criação da ciclovia na avenida Águia de Haia. Nas oito páginas do documento ele apontou as características que tornam a avenida essencial para os ciclistas da região.  

“A via tem diversos pontos de atratividade, como grandes supermercados, terminais de ônibus e escolas. Ela se interliga a pelo menos 4 ciclovias e tem características ideais para quem pedala, como ser linear e praticamente plana. É a avenida Paulista da região e sua ciclovia terá a mesma importância da que existe no cartão postal da capital”.

Fonte: Estadão

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