BNDES homologa consórcio vencedor de licitação de novo sistema de bilhetagem eletrônica para o transporte público intermunicipal da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Consórcio FDT-UM venceu pregão no valor global de R$ 1.11 milhão
ALEXANDRE PELEGI
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES anunciou na edição do Diário Oficial da União desta sexta-feira, 23 de outubro de 2020, a homologação do resultado do Pregão Eletrônico destinado à contratação de serviços técnicos para a estruturação de projeto para implementação e gestão de um novo sistema de bilhetagem eletrônica para o transporte público intermunicipal da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e suas interfaces com o transporte público municipal.
De acordo com a publicação, foi homologado e adjudicado o objeto do certame ao Consórcio FDT-MU, liderado por Fundação Universidade Empresa de Tecnologia e Ciências – FUNDATEC, e integrado também por Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE e Cordeiro, Lima Sociedade de Advogados.
O valor global do certame foi de R$ 1,11 milhão.
Como mostrou o Diário do Transporte, em 2017 a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) firmou um Termo de Compromisso com o Estado e com o Ministério Público estadual (MPRJ) para a realização da licitação do sistema de bilhetagem eletrônica intermunicipal. Relembre: Após acordo, bilhetagem eletrônica no transporte intermunicipal do Rio de Janeiro terá licitação
O documento estabeleceu um novo modelo de gestão a partir da consolidação dos dados gerados por cada meio de transporte público, como o número de usuários e de viagens efetuadas em ônibus, trem, metrô e outros. Isso possibilitará, entre outros pontos, a melhor administração da verba pública repassada às empresas de transporte.
O TAC estabeleceu o prazo de 540 dias para a licitação e a contratação do vencedor a operar o novo sistema, que ainda possibilitará a consolidação dos dados de transporte público por parte do estado, levando a mais informação e permitindo maior análise e controle.
Em fevereiro deste ano (2020), após disputa judicial e de tentativas de acordo durante mais de três anos, foi firmado um novo TAC pela Defensoria Pública, pelo Ministério Público e pelo governo do Estado.
Ficou definido que o sistema de bilhetagem eletrônica usado no transporte público passará a ser administrado pelo Estado do Rio ou por empresa escolhida por licitação, cuja vencedora deverá ser conhecida e contratada até 31 de dezembro desse ano.
De acordo com a Defensoria, o novo TAC termina com o monopólio da Riocard, de propriedade da Federação de Transportes de Passageiros do Estado do Rio. Além disso, proíbe expressamente que empresas de concessionárias de transporte público ou pessoas a elas ligadas se candidatem à concorrência que escolherá a nova operadora do sistema.
O documento destaca que o objetivo da Defensoria, do MP e do Estado é a “a elaboração de um sistema de bilhetagem mais aberto, moderno e benéfico ao usuário, aliado a um controle maior pelo Poder Público, em especial dos benefícios concedidos com dinheiro público (Bilhete Único Intermunicipal e gratuidades)”.
Como explicou o subcoordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria, Eduardo Chow de Martino Tostes, através deste novo TAC, todo o sistema de bilhetagem eletrônica passará a ser de efetiva titularidade do Estado, e não mais da Fetranspor. “É uma medida essencial para um novo capítulo na história do Estado do Rio de Janeiro, com o poder público cuidando adequadamente da população fluminense e assumindo um serviço que já deveria estar no controle desde sempre. Esperamos que agora o transporte público melhore para a população mais carente que o utiliza diariamente, e que o Estado consiga melhor planejar e melhor pagar os subsídios que são no fim pagos por toda a população do Rio com os impostos”, afirmou o Defensor Público.
Segundo aponta a Defensoria, todo o sistema de bilhetagem eletrônica do transporte público, incluindo ônibus e vans intermunicipais, é coberto pelo TAC, que previu a transição de até 180 dias para a vigência simultânea do novo e do antigo sistema, de modo a não prejudicar os usuários do Bilhete Único Integrado, do Vale Social e do Vale Educação.
O futuro serviço de bilhetagem eletrônica e todos os dados relativos ao sistema, principalmente receita, estarão sujeitos ao acompanhamento permanente por parte da Defensoria Pública e do Ministério Público, informa o MP do Rio. A operação deve ser “instrumento de transparência e fiscalização dos serviços de transporte público e da regularidade dos subsídios custeados pelo ente público”.
Na fase de licitação e contratação, Defensoria e MP deverão ter acesso irrestrito a “todas as informações, dados e justificativas técnicas” do processo.
A empresa vencedora da licitação, ainda segundo o novo TAC firmado este ano, deverá permitir também “acesso remoto irrestrito a todos os dados que integram o sistema, como, por exemplo, o valor do subsídio a ser repassado às permissionárias e concessionárias, o número de passageiros e de viagens e o valor total auferido por cada modal”. As informações deverão ser publicadas na internet, aberta a toda a população, preservando somente detalhes que “violem a privacidade dos usuários” de transporte.
Conforme garante o TAC, o Estado deverá “contratar bienalmente auditorias externas para atestar a inviolabilidade do sistema de bilhetagem eletrônica”, a fim de evitar fraudes.
Para o subcoordenador do Nudecon, o novo processo licitatório “representa o fim da caixa preta da Fetranspor/RioCard no Estado do Rio de Janeiro. Será o antes e o depois de sua implementação, colocando um fim a uma conduta que gerou muitos prejuízos em nosso Estado”.
Os números disponíveis sobre o movimento de passageiros dão conta de que, de setembro de 2016 a agosto de 2017, viajaram em ônibus e vans intermunicipais mais de 1,2 bilhão de pessoas, ou cerca de 100 milhões por mês. O transporte ferroviário recebeu, em doze meses, cerca de 165 milhões de passageiros; o metroviário, pouco menos de 250 milhões. As barcas tiveram, no período, 20 milhões de usuários. O VLT, 6,5 milhões. Serão, assim, milhões de pessoas beneficiadas por este TAC.
OUTRO LADO
Em nota ao Diário do Transporte encaminhada em 24 de julho de 2020, a RioCard informou que “não tem monopólio sobre o sistema de pagamento eletrônico no transporte público no Estado do Rio de Janeiro”. Além disso, esclareceu que não há caixa-preta em relação aos dados referentes à bilhetagem eletrônica.
Confira a nota, na íntegra:
A RioCard esclarece que não tem monopólio sobre o sistema de pagamento eletrônico no transporte público no Estado do Rio. Existem mais de sete sistemas de bilhetagem em operação no Estado, como exemplo nas concessionárias de trem e metrô e nas operações rodoviárias na Região dos Lagos e no Sul Fluminense.
É importante ressaltar que a bilhetagem eletrônica foi instituída pela Lei Estadual 4.291, de 2004, que determina que as empresas de transporte sejam responsáveis pelo custeio, pela implantação e pelo gerenciamento do sistema, assegurando ao poder público o acesso às informações. E as empresas que receberam a delegação por lei, por sua vez, optaram pela utilização do sistema RioCard.
É preciso informar ainda, que de acordo com o decreto estadual 46.243, de 2018, não há monopólio na comercialização de Vale-Transporte. Pelas novas normas, todas as concessionárias podem realizar a venda do VT.
Cabe destacar também que não há caixa-preta em relação aos dados referentes à bilhetagem eletrônica. O Governo do Estado do Rio recebe diariamente, por meio do Proderj, todos os dados auditados, inclusive as gratuidades e as informações do Bilhete Único Intermunicipal (BUI). Em relação às gratuidades, cada secretaria do governo responsável recebe as informações para análise.
A RioCard afirma que sempre esteve disponível para esclarecer os questionamentos do Ministério Público e da Defensoria Pública, de forma transparente e colaborativa, buscando soluções que venham atender os interesses do Estado e as necessidades dos passageiros de transporte público.
HISTÓRICO
(Defensoria RJ)
Desde 2017, Defensoria e Ministério Público tentam garantir que os dados relativos à receita gerada pelo sistema de bilhetagem eletrônica sejam transparentes e controlados pelo poder público. Em julho daquele ano, Defensoria e MP conseguiram liminar em ação civil pública junto à 4ª Vara de Fazenda Pública contra a Fetranspor, a RioCard e o Estado, alegando ser inconstitucional e ilegal que não tivesse havido licitação para escolha da empresa responsável pela emissão de cartões usados no transporte de concessão e/ou permissão estadual e pela coleta de dados relativa à venda de passagens.
Em novembro, o Estado acabou por assinar um primeiro Termo de Compromisso com a Defensoria e o MP, comprometendo-se a mudar o sistema de bilhetagem e a abrir licitação para escolha de empresa que faria o processamento de todas as transações referentes ao transporte de passageiros, substituindo a RioCard.
Meses depois, já em fevereiro de 2018, o então governador Luiz Fernando Pezão assinou o Decreto 46.243, acabando com monopólio da RioCard, conforme o que fora acordado no Termo de Compromisso. Na sequência, porém, o Estado passou a descumprir o acordo anterior e o caso voltou à Justiça.
Em 2019, com a posse do novo governo estadual, a renegociação foi retomada, de modo a tornar exequível a mudança em todo o sistema e a sua efetiva implementação.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes
Fonte: Diário do Transporte
Até que enfim !
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