Prefeitura do Rio precisa solucionar o sumiço das linhas de ônibus - Editorial
Num sistema de transporte que funcionasse minimamente, a circulação dos ônibus deveria ser um serviço regular, com trajetos e horários estabelecidos. No Rio, está longe disso. A confusão no setor chegou a tal ponto que as linhas estão sumindo — sem qualquer aviso das empresas ou do poder público. Os passageiros ficam a pé. Segundo levantamento do “RJ-TV”, mais de 150 linhas desapareceram das ruas ou reduziram drasticamente a frota nos últimos meses. Tal número representa cerca de 20% do total cadastrado.
Sem ônibus, os passageiros são obrigados a pagar mais caro em aplicativos de transporte ou a recorrer às vans, legais ou não, que rapidamente se apropriaram dos itinerários oficiais. É um retrocesso, numa cidade cujo transporte quase foi inviabilizado pela concorrência predatória das vans, serviço em grande parte controlado por grupos de milicianos, principalmente na Zona Oeste da cidade.
Problemas assim não deveriam ocorrer mais. Ao menos em tese. Em 2010, quando as linhas de ônibus foram licitadas no Rio, quatro consórcios assumiram a operação do sistema —Internorte, Intersul, Transcarioca e Santa Cruz. A ideia era que, se alguma das empresas quebrasse, outras do grupo absorveriam as linhas, de modo a não prejudicar o serviço. Pelo jeito, o pool também evaporou.
É inegável que a pandemia afetou o sistema de transporte, na medida em que reduziu o número de passageiros — as empresas falam em queda de até 75% — , especialmente entre março e junho, quando funcionaram apenas os serviços essenciais. Mas o novo coronavírus não é o único culpado. Empresas já estavam em crise antes. Estima-se que 15 tenham fechado desde 2015. A última foi a Estrela, dona de 15 linhas, que encerrou atividades no início do mês.
O prefeito Marcelo Crivella diz que “não dá para obrigar os empresários a ter prejuízo”. Argumenta que o número de passageiros caiu com a pandemia e que a tarifa no Rio é uma das mais baixas, comparada à de outras capitais. Porém, como poder concedente, a prefeitura tem obrigação de resolver o problema, já que existe um contrato em vigor — e ele precisa ser cumprido.
Se há desequilíbrio econômico-financeiro, como alegam as transportadoras, que as partes cheguem a um acordo para dar viabilidade ao negócio. O inaceitável é permitir às empresas operar apenas as linhas mais rentáveis, ignorando a demanda dos usuários. Nesse jogo de cena, em que empresários fingem que cumprem o contrato, e a prefeitura finge que não vê, os prejuízos não podem cair na conta dos 2,7 milhões de cariocas que dependem dos ônibus todo dia.
Fonte: O Globo
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