Passageiros da região metropolitana de Goiânia trocam ônibus por aplicativos

Enquanto as empresas concessionárias do sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia veem uma demanda de usuários ainda apenas 40% do que ocorria antes da pandemia da Covid-19, os motoristas de transporte por aplicativo comemoram um aumento no número de corridas diárias. Neste caso, com o fim das férias de julho, a quantidade de viagens aumentou até 400% em relação ao período de fechamento do comércio e de estabelecimentos de serviço e o relato dos trabalhadores dão conta de que usuários que eram dos ônibus migraram para os carros com a pandemia, sob o argumento de fugir das aglomerações e evitar a doença.

“No começo da manhã e no final da tarde aumentaram muito as viagens. Quando teve o fechamento, a média era de sete a oito corridas por dia, agora com a reabertura do comércio nosso trabalho voltou ao normal, como se não tivéssemos mais pandemia”, conta o presidente da Associação dos Motoristas por Aplicativo do Estado de Goiás (Amago), Leidson Alves dos Santos. Hoje, cada motorista chega a fazer de 35 a 40 viagens por dia. Santos estima que se haja hoje cerca de 32 mil motoristas cadastrados na região metropolitana de Goiânia, mas nem todos estão ativos. A Prefeitura de Goiânia estima que são cerca de 20 mil trabalhadores do ramo apenas na capital.

Nos ônibus, até meados de março, o carregamento diário nos dias úteis chegavam a 530 mil validações. Na primeira semana de agosto, o transporte coletivo teve seu ápice no atendimento desde março, com de 210 mil validações na sexta-feira (7), o que chega justamente aos 40% do normal. No entanto, uma semana depois, esse patamar já teve nova redução. Na quarta-feira (12), foram 200.491 passagens usadas.

A vendedora Aline Cristine Pereira da Costa utilizava o transporte coletivo metropolitano até o início de março deste ano. A empresa em que trabalha, no Setor Balneário Meia Ponte, Região Norte de Goiânia, fechou por alguns dias, com a pandemia, mas quando as atividades no local retornou, no final do mesmo mês, ela já trocou o ônibus pelo veículo chamado pelo aplicativo. “Foi devido à superlotação. A pandemia foi o maior problema mesmo, tinha o risco de contaminar e eu tenho filhos, a gente fica com medo. E depois foi pela comodidade também”, conta. Além da segurança, Aline ganhou tempo, já que deixou de gastar 1h10 para chegar ao trabalho e trocou pelos 20 minutos atuais.

Por outro lado, o custo diário para fazer o trajeto aumentou. Antes, cada ida ou volta custava os R$ 4,30 da passagem do transporte coletivo, agora são pelo menos R$ 14 por dia. “Por enquanto eu pretendo continuar assim, é mais seguro”, conta, sem dizer se há chance de retornar ao transporte coletivo quando houver o fim da pandemia. “Se não pesar no meu orçamento eu vou continuar depois também. Por enquanto está tudo certo”, afirma. O presidente da Amago relata que atualmente é comum fazer viagens com três pessoas no veículo, conforme o protocolo permitido, indo ao trabalho ou voltando para os bairros juntas, dividindo os custos da viagem.

“As pessoas contam que eram usuárias de ônibus para a gente e que estão com medo da Covid-19”, diz Alves. Para ele, a tendência é que esses novos usuários migrem de vez para o transporte individual. “Quando divide o custo então, fica ainda mais barato que nos ônibus, acabam deixando o coletivo.” A 99, uma das empresas de aplicativo de carona paga que atuam na capital, informa que em relação à quarentena e o fechamento de grande parte do comércio, foi registrada em Goiânia uma desaceleração e mudança no perfil dos deslocamentos, “com grande parte das corridas voltadas para mercados e integração com outras modalidades de transporte público”.

Em período antes da pandemia, os shoppings eram os principais destinos das viagens pelo aplicativo, com a quarentena isso passou a ser os terminais Cruzeiro e Praça da Bíblia, além de supermercados. Neste caso, o usuário do ônibus trocaria ao menos parte do trajeto ou evitava as aglomerações em pontos de ônibus ou terminais, além dos atrasos nas viagens devido à redução na frota e diminuição da capacidade de carregamento dos ônibus, com a regra do governo estadual de só permitir passageiros sentados nos veículos coletivos, como medida de segurança sanitária para evitar a propagação da Covid-19.

A empresa detentora do aplicativo informa ainda que em comparação com julho de 2019, o mês de julho deste ano fechou com um aumento de 21% nas viagens realizadas a partir do aplicativo em toda a região metropolitana. Válido ressaltar que em metade do mês, entre os dias 1º e 14, a maior parte das atividades econômicas estava fechada ao público em geral.

Leidson Alves explica que, com a retomada, voltaram também as viagens destinadas aos locais de maior demanda, como shoppings, aeroporto e rodoviária, além da região da Rua 44. No entanto, os motoristas estimam que essas corridas ainda estão 30% abaixo do que em relação ao começo do ano, o que comprova a mudança no perfil do passageiro do transporte por aplicativo, tomando o usuários dos ônibus. No entanto, a 99 reforça que, já com a reabertura do comércio em toda a região metropolitana, “os shopping centers voltaram a ocupar a liderança como destinos mais frequentados pelos passageiros desde julho e agosto”.

Táxis e motos ficam no prejuízo

A escolha dos usuários de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia por deixarem os ônibus não afetou, ainda, outros modais além do transporte feito por aplicativos de mobilidade. Não há uma pesquisa científica, mesmo em âmbito nacional, que investigue o destino dos passageiros. Mas na região metropolitana, apenas os motoristas que operam pelos aplicativos perceberam aumento no volume de trabalho. O presidente do Sindicato dos Taxistas de Goiânia (Sinditaxi), Joaquim Nascimento Dantas, afirma que o mercado atual nunca esteve tão ruim. “Estava ficando muito ruim desde que vieram os aplicativos, mas aí estava melhorando antes da pandemia. Só que piorou tudo. Tem taxista fazendo 2 ou 3 corridas em um dia inteiro”, conta. Ele estima que entre 30% e 35% dos trabalhadores nem sequer se recadastraram na Prefeitura de Goiânia neste ano, pois não compensaria exercer a profissão. “Para a gente não veio nenhum passageiro de ônibus”, confirma.

Os mototaxistas também não receberam incremento de demanda com a redução dos usuários de ônibus. Antes da chegada dos aplicativos de mobilidade, ela comum os usuários recorrerem aos mototáxis como alternativa aos ônibus, sobretudo pelo preço mais em conta. Até por isso, era comum que se montasse centrais de trabalhadores próximos aos terminais de ônibus. “Agora não vem mais nada. Não sentimos isso. O que teve de incremento com a pandemia e a volta do comércio desde julho foi com as entregas. Os mototáxis é que migraram para fazer entregas, que é o que está salvando. Já teve aumento de 30% desde que o comércio voltou, mas não foi de passageiros”, diz o presidente do Sindicato dos Mototaxistas de Goiânia, José Carlos Pinto.


Com informações O Popular




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