Fluxo de carros no Distrito Federal já é 90% do registrado antes da pandemia

Mesmo planejada, Brasília convive com congestionamentos no ...

Durante o período de isolamento social, devido à pandemia da covid-19, iniciado no começo de março, as ruas da capital ficaram vazias. Com a retomada de grande parte das atividades comerciais no Distrito Federal, incluindo academias e salões de beleza, a expectativa é que o fluxo de pessoas aumente gradualmente. Problemas crônicos, que o brasiliense enfrentava antes das medidas de distanciamento, como superlotação no transporte público e trânsito intenso, voltaram a aparecer.

A diarista Maria Auxiliadora, 60 anos, parou de trabalhar por 40 dias, mas voltou em abril. Ela conta que, na ocasião, o transporte que pegava para Taguatinga estava mais vazio, no entanto, o cenário mudou. “Fico com medo, porque, na minha família, teve duas pessoas com a doença. E, acho que elas pegaram no coletivo”, revela a moradora de Valparaíso de Goiás. Para o motorista de ônibus Roberto Luiz, 37 anos, o aumento de passageiros ficou evidente, após a reabertura do comércio. “Agora, está ficando mais cheio, porque está voltando tudo. Mas, as pessoas não estão respeitando (as medidas). Mesmo as empresas querendo ajudar, a população não respeita. Você fala: ‘Precisa manter a máscara’, e as pessoas, muitas vezes, entram comendo no ônibus, então, fica complicado”, desabafa.

As normas de utilização de ônibus estabelecidas pela Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) determinam que os passageiros podem embarcar nos coletivos apenas se estiveram usando máscaras e não podem ficar em pé nos veículos. Ficou estabelecido, também, o uso de máscaras e álcool em gel pelos motoristas e cobradores, a higienização dos veículos a cada parada nos terminais e antes do início de cada viagem — que devem ser realizadas, sempre, com as janelas abertas. No metrô, as medidas de proteção são semelhantes. Além da testagem dos funcionários e limpeza reforçada, é distribuído álcool em gel para os servidores e foi estabelecida a fiscalização e a orientação sobre o uso da máscara aos passageiros.

Riscos

A aglomeração de pessoas em um espaço fechado, contudo, é inevitável, quando o transporte enche. “Os ônibus ficaram mais vazios com a norma de andar apenas com a lotação de banco, mas, algumas vezes, vão cheios. Volta e meia vai lotado”, admite o cobrador Jorge Carmo. 

De acordo com a Semob, a quantidade de passageiros no transporte público vem aumentado, mas, ainda, não se compara ao movimento dos anos anteriores. Atualmente, são cerca de 490 mil viagens diárias feitas nos ônibus, menos da metade da taxa anterior ao isolamento social, quando, a média, era de 1,3 milhão de acessos, por dia. O menor índice registrado foi em abril, com 380 mil viagens diariamente. Em junho deste ano, o total de acessos no mês foi de 12.052.000. No mesmo período do ano passado, houve 27.314.577 viagens. Segundo a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô/DF), o serviço atende, neste momento de pandemia, entre 50 e 55 mil passageiros a cada dia. Antes da crise sanitária, eram cerca de 170 mil usuários diários.

A experiência da moradora do Riacho Fundo 1 Aldecina da Silva, 36 anos, no entanto, descreve outra realidade. Após ficar dois meses afastada do trabalho, na Asa Norte, a vendedora voltou às atividades no último dia 27 e notou grande diferença na quantidade de pessoas nos coletivos. “Tenho (medo), porque está cheio. Não tem espaço entre os passageiros para entrar no ônibus. Um passageiro fica colado na gente e outros, em pé, ficam conversando em cima. As pessoas usam máscara, mas não usam o álcool em gel antes de entrar e após sair do ônibus”, reclama.

Para o engenheiro civil Pastor Willy Gonzales Taco, coordenador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru) da Universidade de Brasília (UnB), as medidas tomadas pelo GDF não garantem a segurança dos passageiros. “É seguro, apenas, do ponto de vista teórico, mas, na prática, as pessoas não mantêm o distanciamento nas paradas e nos terminais. Para manter (o distanciamento) dentro dos ônibus, teríamos que ter quase o triplo da frota circulante, mas não temos condições para isso.” Ele pontua que outras medidas poderiam ser tomadas, como a medição de temperatura dos passageiros nos terminais, distribuição de álcool em gel para os usuários dos transportes e isolamento do motorista e cobradores, que ficam expostos ao público em geral. Gonzales alerta, ainda, para a necessidade de monitoramento das linhas que operam  nas regiões com maior incidência de casos da covid-19. “Esse levantamento é fundamental para fornecer maior oferta de transporte nessas áreas. Com isso, seria possível diminuir os números de infecções”, argumenta.  

Trânsito

Além dos relatos de transportes públicos cheios, o trânsito começa a dar sinais de estrangulamento, após reabertura de grande parte das atividades não essenciais. A BR 0-40 registrou engarrafamento, na manhã de ontem, na altura do viaduto de Santa Maria, próximo ao condomínio Santos Dumont. Outras vias movimentadas, como Estrada Parque Taguatinga (EPTG), Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) e Estrada Parque Industria e Abastecimento (Epia) e Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig) tiveram trânsito intenso de veículos.

O Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER/DF) tem monitorado, diariamente, a EPTG, a EPIA e a Estrutural, desde o início da pandemia. De acordo com a pasta, ontem, o tráfego médio diário (TMD) alcançou a taxa de 90% de normalização, com 106 mil veículos transitando pela EPTG e pela Estrutural, e 90 mil pela Epia. Na semana passada, o índice era de 80%. Antes das medidas impostas pela pandemia do novo coronavírus, de 120 mil a 100 mil automóveis circulavam por essas vias. O menor volume de veículos nas rodovias distritais foi registrado entre março e abril, com diminuição de 45% do TMD. 

Ônibus no Entorno

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o Ministério Público de Goiás (MP-GO) expediram recomendação às empresas de transporte público que atuam no Entorno para não paralisar o serviço nem diminuir o número de ônibus em horários de pico. Caso tenha ocorrido alguma redução, a circulação deve ser restabelecida, imediatamente. “Trata-se de uma ação interinstitucional que abrange mais de um milhão de pessoas no Entorno do DF que utilizam o transporte público”, destacou o procurador de Justiça Eduardo Sabo, coordenador da força-tarefa do MPDFT. A diminuição da frota em operação pode ocorrer, apenas, se houver comprovação de que a demanda ficou abaixou da metade da capacidade máxima dos veículos.

Fonte: Correio Braziliense

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