Rio de Janeiro-RJ. Lojistas da Marechal Floriano querem fim do VLT
Os comerciantes da Avenida Marechal Floriano suportaram durante quase dois anos as obras da Linha 3 do VLT na esperança de que o trenzinho moderno e silencioso fosse atrair uma nova clientela. Só que não. Os tapumes foram retirados e a Linha foi inaugurada em outubro do ano passado, mas, ao contrário do que se esperava, a situação piorou. Em meio a belas construções históricas, o cenário é desolador. Muitas lojas estão fechadas, e muitos comerciantes já pedem o fim do VLT. O bonde charmoso virou o vilão das vendas, pois a retirada dos pontos de ônibus para seu funcionamento afugentou os clientes.
Inaugurada em 1943, a loja de material esportivo Casa Nair viu a clientela cair entre 30 a 40% com o VLT. Junior e o pai, Hamilton Ferreira, comandam a loja e sentem saudades do tempo dos ônibus barulhentos. “Antes, as pessoas podiam estacionar aos sábados, e todas as lojas ficavam abertas. Não tinha loja vazia ou para alugar, como agora, que você pode escolher como quer a loja, grande, média, pequena, metade”, lamenta Junior. Quem pensava que o VLT livraria a Marechal Floriano das enchentes também se frustrou, pois os alagamentos se tornaram ainda mais frequentes.
Retirada dos ônibus levou clientela
A retirada dos pontos de ônibus é uma das maiores reclamações dos lojistas. Além da redução do movimento com o fim das paradas, os pedestres passaram a transitarem pelos trilhos, longe das lojas, que tornaram-se menos atrativas à distância. “Para o comércio foi horrível, no sábado fecha quase todo mundo. Nunca vi um Natal tão ruim quanto o desse ano, o pior de todos. Nós resistimos porque somos muito antigos e vendemos para um público específico, mas, se a área do VLT virasse estacionamento e calçadão, seria muito melhor. Pode pegar esse trenzinho aí, colocar em outro lugar para a gente voltar ao normal”, radicaliza o lojista.
Os novos desafios criados pelo VLT somam-se ao agravamento de problemas antigos, como a desordem urbana e a presença de viciados em droga nos arredores. Atrás do imponente prédio do Colégio Pedro II cresce uma cracolândia. Iniciada no período de obras, uma boca de fumo se formou na rua Leandro Martins, paralela à Marechal Floriano, acesso obrigatório para os motoristas chegarem à Central do Brasil. Os usuários não se escondem, e, durante todo o dia, é possível vê-los por lá. A Polícia parece não ter conhecimento.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar diz que o policiamento no Centro é feito pelo 5º BPM (Praça Harmonia) e conta com reforços de agentes do programa Centro Presente e do efetivo de militares escalados no Regime Adicional de Serviço (RAS). A Secretaria ressalta ainda a importância da participação nas reuniões do Conselho Comunitário de Segurança, que é onde são debatidas demandas de segurança pública em conjunto. Registros devem ser feitos nas delegacias para ajudar no mapeamento das ocorrências criminosas.
O que mais se vê na Marechal Floriano hoje são lojas fechadas e com placas de “vende-se” ou “aluga-se”. Há mais imóveis fechados do que em funcionamento. A assessoria do VLT Carioca lembra que o trenzinho começou a circular em um período econômico de euforia que acabou não se confirmando. “Sempre buscamos garantir um diálogo próximo com os comerciantes durante o período de obras, que foi um período difícil para os comerciantes. Mas agora, com a linha operando, esperamos algum tipo de recuperação, já que temos pessoas circulando pelas duas paradas do VLT localizadas na Avenida Marechal Floriano”, respondeu o VLT, em nota.
É grande o esforço para se adequar aos novos tempos. A loja Principado Louças iniciou o serviço de entregas aos clientes quando a rua foi fechada para obras. Como tornou-se proibido estacionar na nova avenida, o sistema de entrega continuou. Funcionário há 17 anos, o gerente Joel Santos afirma que a loja não sucumbiu graças aos clientes fiéis. “A rua ficou bem mais bonita, mas fomos prejudicados. Tivemos uma queda muito grande porque os carros não podiam chegar até aqui. Precisamos começar a trabalhar com entregas, mas agora voltou o fluxo normal. Quem vem aqui já é cliente da loja.”
Na rua Alexandre Mackenzie, adjacente, o depósito de doces Estrela Guia prevê dias melhores em função do aumento do número de funcionários no prédio da Oi, na vizinhança. “A clientela agora gira em torno do fluxo de pessoas que trabalham nos prédios”, explica Melchiades Moraes, responsável pela loja, que já existe há 40 anos.
A Academia Simas Dança também espera que o fluxo de pessoas aumente e tem criado eventos aos fins de semana. Segundo Flávio Werneck, um dos responsáveis pelo espaço, a academia está renovando seu quadro de funcionários e espera trazer novas pessoas para suas aulas. “Sempre tem pessoas visitando a escola, e muitas vezes a gente realiza festas e eventos, que chamam pessoas”.
Desde 1972, a Livraria Elizart é um ponto fundamental de cultura na avenida. Além das mesmas dificuldades dos outros lojistas, a livraria ainda sofre a crise do mercado livreiro. Conta com a ajuda da plataforma digital Estante Virtual para realizar boa parte das vendas. “A Estante Virtual vende bem e muitas vezes acaba sendo um marketing porque as pessoas veem o livro cadastrado lá e vêm aqui para dar uma olhada”, afirma Arthur Reis, um dos proprietários do negócio, iniciado por seu avô. Ele também acha que a situação piorou com o VLT. “A gente está se readaptando. Houve um decréscimo de clientes porque muita gente, que vinha de ônibus, agora não desce mais aqui”, diz Arthur.
Em frente ao número 38, a banca de jornal de Paulo Sérgio amarga a redução de 40% dos clientes com a troca, pelos transeuntes, da calçada pelos trilhos do VLT. “Antes da obra o movimento para mim era maior porque as pessoas tinham que caminhar pela calçada, passavam perto da banca. Agora, caminham na pista do VLT, longe. Poucas gente vem pelas calçadas, que são estreitas e cheias de buracos”, relata.
No número 38, só resta uma loja funcionando, uma agência dos Correios. Das 120 salas comerciais, locatários afirmam que menos de 30 salas permanecem alugadas. “Os aluguéis estão muito altos, e muitas empresas saíram dali. Uma loja de roupas masculina funcionava há 22 anos e não conseguiu renegociar o aluguel. Mesmo os lojistas donos dos imóveis falam em fechar. Para mim, o maior problema foi o VLT”, explica Paulo.
Fonte: Diário do Porto
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