Desde 2017, 1.268 ônibus sumiram das ruas no Rio, segundo a prefeitura



Nos últimos três anos, 1.268 ônibus sumiram das ruas no Rio. De acordo com dados da Secretaria municipal de Transportes (SMTR), em 2017, a frota da cidade era composta por 7.672 veículos. Em 2019, caiu para 6.404 coletivos (incluindo BRTs e frescões), uma redução de 16,5% no período. Como se não bastasse, as empresas sequer respeitam o número de veículos necessários, já contabilizado o encolhimento do serviço. O descumprimento do quantitativo mínimo de ônibus por linha está no topo do ranking das multas aplicadas aos consórcios. O reflexo disso é sentido pelos passageiros, que enfrentam filas imensas nos pontos finais e ônibus superlotados, principalmente nos horários de rush.

Os dados da prefeitura apontam que, das 9.003 multas aplicadas às empresas de ônibus por irregularidades em 2019, a infração mais recorrente foi a circulação com frota abaixo da determinada pelo contrato de concessão ou inoperância: ao todo, 4.307. O número corresponde a 47,8% do total. Em 2018, esse percentual foi de 40,6% e, no ano anterior, ainda maior: 61%. O valor da multa nesses casos é de R$ 1.712,95.

Mas a punição não é efetiva: no ano passado, foi pago apenas cerca de um terço das multas aplicadas. As demais estão em processo de recurso ou dentro do prazo para pagamento, segundo a Secretaria municipal de Transportes. O órgão não informou a situação das que foram emitidas nos dois anos anteriores.

— Quem sofre é o passageiro. É claro que há linhas que obedecem às regras, mas outras não. Toda vez que tenho um compromisso com hora marcada no Centro, dou um jeito de sair de casa mais cedo, porque não dá para confiar na 254 (Madureira-Candelária), que demora em média meia hora — reclamou Jeziel Silva, de 39 anos, morador de Cascadura.

Sem alternativa

Na manhã da última segunda-feira, Jeziel teve um pouco mais de sorte. Num ponto da Avenida Presidente Vargas, na Candelária, esperou apenas 20 minutos para embarcar. De acordo com uma planilha no site da secretaria, cuja última atualização é de maio de 2019, a linha 254 tem 28 veículos, o que surpreendeu a dona de casa Miriam dos Santos Pereira, moradora em Cavalcante:

— Os ônibus demoram demais para passar, principalmente de manhã.

A passageira diz ainda que o estresse aumenta quando precisa pegar um ônibus da linha 277 (Rocha Miranda-Candelária). Oficialmente, a linha tem 20 veículos. Das 11h ao meio-dia da última segunda-feira, apenas um coletivo apareceu no ponto final na Candelária. Outra linha que exige uma dose a mais de paciência é a 352 (Candelária-Riocentro). Um despachante explicou aos repórteres do GLOBO que ela circula em apenas quatro horários: 10h40, 12h, 13h20 e 15h. Pela planilha da SMTR, o itinerário deveria ser feito por oito veículos. Já a 397 (Campo Grande-Candelária), que deveria ter 60 coletivos, mantém pouco mais de 20 nas ruas. A auxiliar de enfermagem Lenira Bonfim Macedo, de 50 anos, que mora em Campo Grande, reclama:

— Os intervalos são longos demais, e quem acaba sendo prejudicado é o passageiro.

Nos anos em que a frota encolheu também foi registrada uma queda nos embarques de passageiros em torno de 13% — de 1,169 bilhão em 2017 para 1,017 bilhão de viagens em 2019 (é uma projeção, já que a prefeitura só disponibilizou os números até outubro).

Uma prova de que os ônibus estão fazendo falta nas ruas são as imensas filas em pontos finais. Na Avenida Presidente Vargas, na Candelária, de onde saem linhas para as zonas Norte e Oeste, os coletivos já partem lotados.

Na avaliação de Eva Vider, engenheira de Transporte e professora da Escola Politécnica da UFRJ, a queda no volume de passageiros acontece porque a oferta de ônibus foi reduzida. E não o contrário. Para ela, os passageiros acabam optando por outras formas de deslocamento ao se depararem com a falta de ônibus em circulação. E acabam buscando transporte por aplicativo ou mesmo irregulares, como Kombis e vans.

— A oferta (de ônibus) quando cai influencia diretamente o número de passageiros transportados. Houve uma perda na oferta, e, com isso, caiu o número de passageiros. Isso tem que ser analisado pela prefeitura, assim como o vandalismo e questões de manutenção e reposição da frota — afirma Eva Vider.

Falta controle

O professor Paulo Cezar Martins Ribeiro, do Departamento de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, alerta para a falta de planejamento da prefeitura. Na opinião do especialista, a retirada dos ônibus das ruas prejudica principalmente os usuários assistidos por linhas consideradas pouco rentáveis.

— Falta um controle maior por parte da prefeitura. Não adianta só multar. Pelo visto, (os consórcios) não estão dando bola para a multa, que certamente não são altas. É provável que nem sejam pagas. A prefeitura deveria agir com mais rigor em relação aos contratos de concessão.

Os consórcios têm obrigação contratual de manter em circulação, no mínimo, 80% da frota estipulada pelo município. A exceção fica por conta das linhas com até cinco veículos, que devem manter todos os coletivos nas ruas. Procurada, a SMTR informou que faz fiscalização em garagens, terminais e nas ruas e destacou a importância da denúncia de usuários através do 1746 da prefeitura. O Rio Ônibus alegou que o número de multas é baixo em relação ao total de quilômetros rodados e lembrou que a crise e a concorrência das vans fizeram 14 empresas encerrarem as atividades nos últimos anos.

Com informações: O Globo

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