Linha 3 do VLT começa a rodar no dia 26 de outubro

Veículo do VLT na Zona Portuária do Rio
Um decreto assinado pelo prefeito Marcelo Crivella na manhã desta terça-feira promete, enfim, garantir a inauguração da Linha 3 do VLT (Central - Aeroporto Santos Dumont). Com obras finalizadas há dez meses, o serviço ficará disponível aos cariocas a partir de 26 de outubro. Durante o imbróglio com o consórcio, Crivella chamou o serviço de "porcaria". O grupo empresarial, por sua vez, chegou a pedir a rescisão do contrato na Justiça em julho — a ação continua em trâmite.
O decreto assinado cria um grupo de trabalho formado por técnicos da Prefeitura e da concessionária do VLT, como parte do acordo noticiado pelo GLOBO na última sexta-feira.
— O Município não tinha condições de pagar a diferença exigida no contrato anterior. Agora o VLT pode começar a funcionar e a prefeitura não terá de pagar, por ora, nenhum valor excedente — afirmou Crivella.

O impasse

O consórcio alegava um pendência financeira com a prefeitura, que já ultrapassava os R$ 140 milhões em junho. A Prefeitura do Rio deveria custear o valor de 85% das passagens de uma previsão de 260 mil usuários diários. O problema é que os bondinhos tem uma média diária de apenas 80 mil passageiros em dias úteis. Com o aperto financeira, a concessionária ameaçou parar os trenzinhos.
Para alcançarem o acordo, as partes decidiram criar um grupo de estudos, com técnicos do município e da empresa, onde serão discutidos ao longo dos proximos dez meses os pontos de divergência do contrato, firmado antes das Olimpíadas.
Com a inauguração da Linha 3 do VLT, a concessionária acredita que o número de usuários do serviço, já no primeiro mês, deve pular dos 80 mil por dia útil para mais de 100 mil. O que também é visto internamente como positivo é a demonstração da prefeitura de que está aberta ao diálogo e à negociação, reforçado na reunião desta terça em que Crivella repetiu diversas vezes à imprensa que a "prefeitura cumpre os contratos".

O trajeto

A Linha 3 do VLT Carioca é o último trecho previsto do sistema. Ela liga a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont e conta com 10 paradas, sendo três novas: Cristiano Ottoni-Pequena África (na praça de mesmo nome, também na região da Central), Camerino-Rosas Negras (na Marechal Floriano, próxima à rua de mesmo nome) e Santa Rita-Pretos Novos (também na Marechal Floriano, à altura da igreja homônima — na última quadra da Marechal Floriano, antes da Rua Visconde de Inhaúma). Os nomes contam com homenagens a ícones da cultura africana, batizados em consenso com o Iphan e entidades do movimento negro e sociedade civil.
Os trilhos encontrarão a Linha 1, entre as paradas São Bento e Candelária. A partir desse ponto, a Linha 3 reforçará o atendimento aos passageiros que seguem para o aeroporto. As sete restantes já em atividade serão compartilhadas com as linhas 1 e 2. O percurso total de quatro quilômetros será feito, de uma ponta a outra, em até 18 minutos.

Linhas de ônibus no Centro mudarão trajeto

O prefeito voltou a afirmar que retirará linhas de ônibus do Centro da cidade. A definição de quais linhas e quando isso pode acontecer ainda será um dos temas discutidos pelo grupo de trabalho até agosto de 2020.
— Esperamos ter o VLT funcionando em todos os pontos. E ele precisa de demanda. A retirada dos ônibus é prevista em contrato. Vamos sentar e colocar no lápis para ver o que será feito — explicou Crivella.
A frente do grupo de trabalho representando a prefeitura estará a subsecretária Executiva da Secretaria Municipal de Fazenda, Rosemary Macedo. Ela afirma que o estudo será "complexo", mas pode ter definições antes dos dez meses previstos.
— Precisamos estudar quais serão as linhas. Precisamos ver quais são as linhas que rodam a noite pelo Centro, já que o VLT ainda não opera nesse horário. Na hora em que tiro ônibus, tenho que restabelecer o equilíbrio dos consórcios de ônibus e do VLT. A ideia é reduzir o número de ônibus que circulam pelo Centro. Aumentará a demanta do VLT e reduz a emissão de carbono, que é o ganho pela criação do sistema — explica.

Desfecho positivo

Em janeiro, o prefeito Marcelo Crivella se reuniu com representantes do consórcio para resolver o impasse relativo a uma dívida, que não estaria sendo paga desde maio de 2018. Na ocasião, o prefeito infomou que as duas partes tinham chegado a um acordo e sua expectativa era de que o trecho começasse a operar até os primeiros dias de fevereiro. Em maio, o consórcio anunciou que, sem chegar a um acordo, tinha negociado com seus fornecedores e solicitou autorização do município para colocar o trecho em funcionamento, mas não obteve retorno.
— É uma satisfação finalmente entregar a Linha 3 para a cidade. A ação judicial continua, mas ela é uma das questões que no grupo de trabalho discutiremos — afirmou Márcio Hannas, presidente do Consórcio VLT Carioca.
Crivella disse que um reajuste do valor da tarifa está em pauta, mas apenas no futuro.
— Até dez meses teremos resolvido as linhas de ônibus que vão sair, os reajustes necessários no acordo com o VLT e toda questão — concluiu o prefeito.

"Quanto custou aquela porcaria?", criticou Crivella

Em março, para uma plateia de cerca de 80 servidores, o prefeito Marcelo Crivella, que está em seu terceiro ano de mandato, fez um discurso em que afirmou que o Rio é “uma esculhambação completa”. Outro alvo do prefeito foi o VLT — a qual chamou de "porcaria". A reunião, não divulgada na agenda oficial do prefeito, aconteceu na Divisão de Hortos da Fundação Parques e Jardins, na Taquara.
Crivella e o consórcio que administra o bonde moderno vinham travando uma queda de braço sobre o contrato. Ele estimou que o município teria que investir R$ 18 milhões mensais no sistema, seguindo o acordo anterior no qual a prefeitura tinha de garantir a passagem de 260 mil passageiros por dia no modal (e, segundo Crivella, à época, existiam apenas 60 mil usuários diários):
— Tenho 1500 escolas precisando de reforma, tenho hospitais. Isso é maluquice, doideira. Como vou garantir que tem que ter passageiro no VLT? Corrupção. Quanto custou aquela porcaria? Um bilhão. O Lula nos deu meio bilhão, a fundo perdido, e uma empresa entrou com quinhentos milhões. Agora além dela receber a passagem de todo dia, ainda tneho que garantir mais passagem? Do final, só da minha parte (do cofres do Município), serão R$ 5 bi. Pô, que isso? — contestou Crivella.
De acordo com o portal Rio Transparente, o valor total do contrato do VLT é R$ 2,7 bilhões. Desse montante, a prefeitura tem um saldo a pagar de aproximadamente R$ 2 bilhões até 2025, quando termina a concessão. Em 2018, Crivella destinou R$ 70,3 milhões às obras na Avenida Marechal Floriano.
Com informações: O Globo

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