Estação de metrô inacabada preocupa moradores no Rio de Janeiro

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Divulgação: Diário do Rio
Os dois buracos estão cobertos, os funcionários não circulam mais, e já não se ouve o barulho das máquinas.
Esse é o cenário das obras da estação de metrô da Gávea, na zona sul carioca, que estava prevista para a Olimpíada de 2016, mas até hoje não foi concluída.
As estruturas provisórias —que, mais de seis anos após o início da construção, no governo de Sérgio Cabral (MDB)— ainda sustentam os poços que dariam origem à estação preocupam engenheiros e moradores do entorno.
O medo é que essas estruturas se rompam e provoquem o colapso de edifícios próximos, incluindo os da PUC-Rio, colados no canteiro de obras.
“Há rachaduras em dois laboratórios da universidade, não podemos esperar acontecer o pior”, diz René Hasenclever, presidente da associação de moradores da Gávea.
A conclusão de engenheiros civis com especialidade na área com quem a Folha conversou, ligados ou não ao caso, é uma só: há sempre riscos. É difícil estimar, porém, para quando e quais exatamente seriam as consequências.
“As pessoas insistem na questão do tempo. Se tem risco e as consequências podem ser tão sérias, não interessa o tempo”, defende Tácio Campos, professor da PUC e coordenador de um estudo recente sobre a estação feito pela universidade, que será entregue ao governo sem custos.
“Nesse caso não tem como quantificar a probabilidade [de colapso], mas sabemos que ela existe”, diz, citando que a vida útil de tirantes provisórios (estrutura de aço que “segura” a terra) é de dois anos, segundo a ABNT (associação de normas técnicas).
Mauricio Ehrlich, que leciona engenharia geotécnica na UFRJ (federal do RJ) e estuda obras do metrô do Rio desde os anos 1970, é mais otimista. “É difícil responder quanto a obra pode ficar assim sem ver o projeto. Mas com a água é bem mais que dois anos, sem ela seria muito menos.”
A água a que ele se refere foi um método usado para estabilizar o solo, feito há cerca dois anos pela concessionária responsável pela obra da estação, a Rio Barra (formada por Queiroz Galvão, Odebrecht e Carioca Engenharia), após análises mostrarem pequenos deslocamentos na terra.
Imagine um terreno, que é cheio de terra e água. Quando ele é escavado e drenado, existe uma pressão sobre o buraco que se formou, que no caso da Gávea foi contida por um sistema de concreto e tirantes de aço. Com o tempo, esse material sofre corrosão.
Quando se inunda o poço, essa corrosão é reduzida, já que a água tem menos oxigênio. Consequentemente, a estrutura dura mais. Para isso, é necessário simplesmente desligar as bombas que drenam o solo, e a água vai enchendo as galerias naturalmente.
No caso da estação Gávea, o processo levou um ano. Hoje ela está alagada com 36 milhões de litros, ou 13 piscinas olímpicas. Isso, diz o professor da PUC, impede que um funcionário vá ao local inspecionar as estruturas, daí a dificuldade em estimar os riscos.
Mas, mesmo com a água, segundo os engenheiros, a situação não pode ficar assim por muito tempo. “Passado um período, um ano, dois anos, começa a ficar mais crítico. É preciso fazer um acompanhamento periódico”, explica Thomaz Buttignol, professor de estruturas do Mackenzie.
A Rio Barra afirma que tanto os poços como o entorno da estação têm sido monitorados regularmente e que, até o momento, todos os relatórios demonstram índices normais.
Pedro França, gerente da CJC Engenharia, que fez o projeto, diz que os tirantes estão protegidos por resinas, o que aumenta a vida útil. “Estudos indicam ainda que, mesmo se houver comprometimento dos tirantes, a obra mantém nível de segurança satisfatório estando inundada.”
Mesmo assim, ele reconhece que a única forma de garantir a segurança é concluir o revestimento definitivo. O estudo da PUC e um laudo da RioTrilhos, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Transportes, porém, alegam que resolver a questão é emergencial.
Foi com base nesse último documento que o TCE (Tribunal de Contas do Estado) determinou no início de agosto, pela segunda vez, que o governo Wilson Witzel (PSC) apresente plano emergencial para retomar as obras da estação.
A pasta de Transportes afirmou que enviou suas considerações ao tribunal na quarta (21), mas não esclareceu se tem plano para a construção. O estado argumenta que não tem dinheiro para isso.
Em junho, o subsecretário de logística, José Eduardo Castello Branco, disse que seria preciso R$ 900 milhões para a conclusão total ou R$ 300 milhões para a “obra bruta”, com estabilização, mas sem bilheterias, piso etc.
Falta escavar 1,2 km de túnel e concluir 58% da estação. A outra opção é desistir dela, drenar os poços e enchê-los de terra novamente. Segundo o subsecretário, Witzel pediria ajuda ao governo federal.
No meio de tudo há ainda uma decisão liminar concedida a pedido do Ministério Público que impede, desde 2018, o governo estadual de repassar qualquer quantia para as obras à concessionária.
Segundo a Promotoria, que apontou “evidente cenário de desequilíbrio econômico”, alterações contratuais aumentaram os gastos do estado na linha em quase oito vezes, para R$ 9,2 bilhões, e reduziram os custos das empresas para R$ 1,2 bilhão (valores de 2011).
Consenso, mesmo, é que a maior prejudicada no imbróglio é a população. “Estamos há mais de 20 anos esperando essa linha, em uma cidade com transporte péssimo e forte cultura do carro”, diz o presidente da associação de moradores, que já acumulou quase 4.000 assinaturas pela conclusão da estação Gávea.
Com informações: Folha de São Paulo

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