Rio de Janeiro-RJ. Moradores sofrem com ônibus 'fantasmas' na Zona Oeste
Além das linhas que desapareceram por completo nos últimos anos, os moradores da Zona Oeste ainda convivem com as que são praticamente “fantasmas”. Segundo moradores, em pelo menos 14 itinerários, os ônibus se tornaram raros nas ruas, seja porque são poucos ou por circularem em horários restritos.
As linhas reclamadas constam como ativas e com frota definida — que muitas vezes não condiz com a realidade — em uma planilha disponibilizada no site da Secretaria Municpal de Transportes (SMTR). Sua última atualização foi em maio de 2019.
Porém, duas delas só existem para a prefeitura. Uma é a 391 (Padre Miguel — Tiradentes), que aparece na planilha oficial como tendo uma frota determinada de 24 carros. Entretanto, nenhum deles é visto nas ruas. De acordo com moradores, ela desapareceu há pelo menos dois anos, quando a Viação Bangu, que explorava o itinerário, faliu.
O mesmo acontece com o 367 (Realengo — Candelária), que para o município tem 13 coletivos. Mas o que os moradores veem em seu ponto final, na Rua Henrique Martins, próximo ao Campo do Periquito, em Realengo, são apenas vans.
Outras linhas, como 366 e 398, aparecem na planilha como tendo bem mais carros do que retrata a realidade das ruas. A primeira teria 27 veículos e a segunda, 16, de acordo com a prefeitura. Só que a placa existente no ponto final delas, em Campo Grande, indica a existência de apenas dois carros, para cada itinerário. Já passageiros dizem que, na verdade, há apenas um para cada trajeto.
— É uma vergonha. Até o fiscal da linha desapareceu, há pelo menos seis meses, já que não tem o que fiscalizar. Como são apenas dois motoristas (um para cada linha), a gente já os conhece pelo nome. A ausência dos ônibus está quebrando o nosso comércio. As filas de antes atraiam público para cá. Hoje está terrível — reclama o comerciante Paulo César Fonseca, de 70 anos, dono de uma pequena ótica na Rua Aracaju, em Campo Grande, perto do ponto final do 398.
A praça que fica no fim da Rua Barcelos, em Padre Miguel, e que durante anos foi ponto final do 391, ainda é conhecida informalmente pelo nome da linha. Com seu desaparecimento, a 383, que parte de Realengo, criou uma extensão até o local, mas em apenas dois horários (5h20 e 6h da manhã), sendo que as viagens para o Centro são só de ida.
— Já que criaram essa gambiarra poderiam regularizar e torná-la uma linha fixa do bairro, com mais horários — reivindica Rodrigo Pereira Ávia, de 25 anos.
Consórcio põe a culpa nas vans
O Consórcio Santa Cruz, responsável pelas linhas que circulam na região, informou, por meio de nota, que “está trabalhando para não deixar a população desassistida, mesmo operando com dificuldade, no limite da sua capacidade e diante de um cenário de calamidade na Zona Oeste”.
O texto diz ainda que “a concorrência desleal do transporte clandestino de vans, em 100% das linhas operadas pelas empresas, torna inviável as atividades na região. Dificulta, inclusive, a sobrevida de um negócio que faz parte do cotidiano da população”, afirma o consórcio.
Para passageiros como Rodrigo Ávila, só resta esperar sentado ao lado da placa do ônibus que não vai passar pelo ponto tão cedo.
— Hoje, para ir para o Centro, temos que fazer baldeação, pegando um ônibus até Bangu e lá, embarcando em outro coletivo ou então no trem — lamenta Rodrigo.
Enquanto isso, no ponto final do 398, quem tem que dar satisfação da linha, que nem fiscal possui mais, são os comerciantes da área.
— Muita gente quer saber se tem o ônibus e a que horas ele passa. A única coisa que posso informar é que vai demorar — diz Francisco Paulo da Silva, de 59.
Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes afirmou que “os dados sobre as linhas disponíveis no site da SMTR indicam a frota total determinada para cada linha, porém, é permitido que cada uma circule com no mínimo 80% deste total, conforme estabelecido em contrato”. A SMTR disse também que, de 2018 até agora, os consórcios responsáveis pelas 17 linhas questionadas já foram multados 548 vezes por inoperância e circulação com frota menor.
Problemas não são passageiros
- As linhas 358, 365, 366, 388, 395, 398, 364, 389,739,744,751,767,874 e 933 quase não são vistas nas ruas, segundo os moradores da Zona Oeste.
- As linhas 391 e 367 desapareceram por completo, mas ainda estão ativas para a prefeitura
- Em março de 2018, a prefeitura tinha prometido licitar de novo as linhas que haviam desaparecido. Na ocasião, havia pelo menos 22 nessa condição em toda a cidade. A maioria atendia os passageiros da Zona Oeste. Na época, a SMTR chegou a confirmar que a licitação estava em estudo, mas não saiu do campo da promessa.
- Em junho, a SMTR admitiu que o Rio perdeu, em um ano, 1.509 ônibus. Em 2018, a frota da cidade contava com 8.342 coletivos; este ano, são 6.833 carros em circulação, uma redução de 18%.
Fonte: Extra/O Globo
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