Rio de Janeiro-RJ. Estações de trecho desativado do BRT Transoeste sofrem processo de desmonte

Peças e equipamentos como vidros e grades estão sendo retirados das estações
 Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

Desativadas há um ano, as 22 estações do corredor Transoeste no trecho entre Campo Grande e Santa Cruz, pela Avenida Cesário de Melo, estão passando por um processo de desmonte, iniciado na semana passada. Nessa terça-feira uma equipe usando uniformes com a identificação do BRT trabalhava na estação Júlia Miguel. Na véspera tinha sido a vez da Santa Eugênia, ambas em Paciência. O processo começou pela Cesarão 1 e já atingiu pelo menos nove estruturas, que estão ficando só na carcaça.

— A ordem que recebemos foi a de retirar tudo que pudesse ser retirado e de todas as estações. No final do dia um caminhão passa e leva tudo — contou um integrante da equipe, que preferiu não se identificar.

O grupo estava retirando os vidros das portas, que ainda estavam inteiros, corrimãos, grades, caixas d'água, catracas e desmontando bilheterias. Apenas a estrutura construída pela prefeitura deve ficar de pé. Peças, equipamentos e mobiliário colocados pelo consórcio, e que ainda restavam, estavam sendo retirados.

Em algumas estações, como a Cesarão 3 e Vila Paciência, não havia o que ser retirado. Elas já se encontram na carcaça, depois de terem sido alvos de sucessivos ataques e depredações. Outras, como a Júlia Miguel, tinham ainda até os bancos, que também estavam sendo retirados.

A movimentação de pessoas trabalhando nas estações desse trecho, por onde os ônibus articulados já não passam mais, provocou sentimentos distintos nos moradores da região. Em uns reacendeu a esperança de que o trecho possa voltar a ser operado. Já para outros, mais descrentes, isso pode representar o fim definitivo do serviço, que chegou a transportar 30 mil passageiros por dia, sendo que 57% (17 mil/dia) não pagavam passagem, segundo dados do próprio BRT.

— Minha suspeita é de que é para acabar de vez. É uma pena. A gente precisa tanto do BRT. Hoje, para ir até a Barra da Tijuca precisamos nos deslocar até Santa Cruz ou Pingo D'água e lá enfrentar filas intermináveis para viajar num ônibus lotado. Isso aqui virou um verdadeiro elefante branco. Só comeu dinheiro público — se queixou o vigilante Alexandre Rocha, de 36 anos, morador em Paciência.

O assistente de produção Oséias Batista da Silva, de 38, também morador do bairro, defende a volta do BRT e diz que as estações desativadas só geram insegurança. O coordenador de transporte Waldir Pereira, de 42, está entre os que ainda têm esperança de ver os articulados circulando de novo pela pista exclusiva da Cesário de Melo.

— A obra já está implantada. Não volta se não quiserem. Falta força de vontade — diz.

Uma postagem feita numa página da região numa rede social chamou a atenção da população. “Estão desmontando a estação do BRT de Paciência”, dizia a legenda da foto que mostrava uma equipe retirando os vidros da estação Santa Eugênia. “Sinal que o trecho Campo Grande—Santa Cruz não volta mais”, escreveu um internauta. “Ouvir dizer que era reforma para volta, putz!", postou outra.

— Isso representa o puro descaso do governo com a população da Zona Oeste — acredita o vigilante Sandro Inácio dos Santos, de 46 anos, o internauta que fez a postagem.

O trecho foi desativado no fim de março do ano passado, após sucessivas depredações e de violência na região. Pelo menos duas estações — Prefeito Alim Pedro e Cândido Magalhães — viraram residência de moradores de rua. Cada uma dessas estruturas custou cerca de R$ 1 milhão aos cofres públicos.

Com a ausência dos articulados, a calha exclusiva do BRT está sem uso. Vez por outra um carro particular passa por ela para driblar os engarrafamentos comuns na Cesário de Melo, pelo manhã e no fim da tarde. Ciclistas também fazem da pista sem uso pelos articulados uma grande ciclovia.

Enquanto isso, moradores da região que utilizam o transporte público estão à mercê das vans, que se transformaram na principal opção de locomoção. A população conta apenas com a linha 17, de ônibus (Campo Grande-Santa Cruz), que deveria ser temporária, mas acabou se perpetuando. Seus 17 carros, de modelo convencional e que trafegam fora da calha do BRT, são considerados insuficientes para atender a demanda da população.

Todo o sistema está sob intervenção da prefeitura desde o começo do ano. A comissão de intervenção diz que está diagnosticando os problemas do sistema e apresentará à prefeitura uma proposta de edital para nova licitação, abrindo o serviço a investidores de fora do sistema, com capacidade para melhorá-lo. O edital deve prever não só a oferta de veículos em número suficiente para a operação, mas também a reabertura de estações fechadas na Cesário de Melo, a segurança em estações e ônibus e a reconstrução da pista Transoeste.

Choque de ordem

Enquanto equipes do BRT trabalhavam nas estações, nas imediações da Santa Eugênia, era realizada uma operação para combater a ocupação irregular por ambulantes das calçadas ao lado da estação de trem de Paciência. Até o meio-dia, foram retiradas 23 estruturas metálicas chumbadas no solo que serviam de banca para os camelôs venderem suas mercadorias. Também foram desfeitas as ligações clandestinas de energia elétrica.

Segundo Leandro Benfica, subgerente de operações da Zona Oeste, a medida era em atendimento a um processo da MP que pedia a desobstrução das calçadas e o combate ao furto irregular de energia e venda de produtos ilegais. Participaram da ação equipes da Secretaria Municipal de Fazenda, Coordenadoria de Controle Urbano, Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente, Guarda Municipal e Comlurb.

Veja o que disse a comissão de intervenção

O corredor do BRT entre Curral Falso e Campo Grande foi desativado pelo Consórcio Operacional BRT no ano passado, em função do vandalismo e do risco representado por grupos criminosos. Algumas estações têm sido ocupadas por moradores de rua, com muita depredação e furtos do patrimônio público. Para evitar mais prejuízos para a população e o uso inadequado das instalações, estamos estudando uma solução diferente para viabilizar a retomada do corredor com outro modelo de estação menos vulnerável ao vandalismo. Para evitar despesas desnecessárias para o BRT, desligamos o fornecimento de água e de energia elétrica para esses pontos.

Consórcio lamenta desmonte

As empresas que operam o BRT Rio lamentaram "que o poder público tenha optado pela solução mais fácil ao iniciar o desmonte das estações no trecho da Avenida Cesário de Melo, ignorando a sua obrigação legal em garantir a segurança da operação de 500 mil passageiros". Em nota, as empresas afirmaram que o desmonte das estações é "mais uma prova de descaso e da incompetência técnica do poder público, como também pode ser notado na falta de manutenção das pistas, no combate aos calotes e na repressão aos atos de vandalismo".

O consórcio BRT Rio ressaltou que coibir transgressões, delitos e crimes de qualquer natureza é atribuição e competência do poder público. E disse que tem cobrado medidas efetivas da prefeitura, por meio de ofícios e denúncias públicas, para combater as condições de insegurança e violência que afetam o sistema BRT.

A comissão de intervenção afirmou que o corredor do BRT entre Curral Falso e Campo Grande foi desativado pelo consórcio operacional BRT no ano passado, em função do vandalismo e do risco representado por grupos criminosos. Em nota, informou que, "para evitar mais prejuízos para a população e o uso inadequado das instalações", está estudando uma "solução diferente para viabilizar a retomada do corredor com outro modelo de estação menos vulnerável ao vandalismo". Além disso, para evitar despesas desnecessárias para o BRT, diz a nota, o fornecimento de água e de energia elétrica para esses pontos foi desligado.

Fonte: Jornal Extra

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