Rio de Janeiro-RJ. BRT da Avenida Brasil já perdeu 4 estações antes mesmo de começar a operar
Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo |
Cheia de saudade, Lucília Moura Barreiro, uma costureira e boleira de 78 anos, conta que, aos 8, gostava de brincar à beira da Avenida das Bandeiras, que não tinha sinais, na altura de Irajá. Mais tarde, em 1961, aquele local seria incorporado à Avenida Brasil, que, à época, começava no Caju e acabava em Parada de Lucas. Quase seis décadas depois, Lucília, que hoje mora num condomínio em frente às pistas, acompanha com tristeza o dia a dia na principal porta de entrada da cidade, que coleciona superlativos: é a via de mais tráfego, roubos e acidentes do Rio.
A manutenção precária e os investimentos cada vez mais escassos têm eternizado problemas. Os nós do trânsito ficaram mais difíceis de desatar com as intermináveis obras do Transbrasil, entre a Rodoviária Novo Rio e Deodoro, iniciadas em janeiro de 2015 e paralisadas duas vezes. A Secretaria municipal de Infraestrutura e Habitação promete que, até o fim do ano, os trabalhos acabam. O que não significa que o corredor, finalmente, vai operar.
O BRT avança em marcha lenta, sujeito a atropelos. O maior problema é a falta de um terminal em Deodoro com uma área de manobra para os ônibus, o que põe em dúvida o possível início imediato da operação do serviço assim que as obras terminarem. Será necessário um termo aditivo para construí-lo, o que ficará para uma etapa seguinte e exigirá pelo menos seis meses de construção. Além disso, entre Deodoro e o Trevo das Margaridas, em Irajá, não haverá sequer uma estação, porque quatro foram excluídas do projeto original. Isso aconteceu para ajuste de custos — a Caixa, para conceder um financiamento, exigiu que o BRT chegasse até a Rodoviária Novo Rio, onde a estação será circular. O traçado do corredor, então, perdeu algumas estações e ganhou outras. Terá 15 paradas, a última em Vigário Geral. Questionada sobre a área de manobra dos ônibus articulados, a Secretaria de Infraestrutura frisou que é responsável pela obra, cabendo a operação à pasta de Transportes. Essa, por sua vez, explicou que a solução terá de ser encontrada pelo operador do BRT, que, no entanto, não foi escolhido: o edital ainda está sendo elaborado .
Além dos engarrafamentos, dos blocos de concreto soltos e da sinalização precária, o futuro corredor do BRT reflete na própria estrutura as consequências da lentidão de seu avanço: alguns pontos já apresentam ferrugem, como um inacabado viaduto em Irajá e uma estação em construção na Penha. Pistas de concreto destinadas aos veículos articulados, usadas por outros veículos, têm fissuras, ondulações e até buracos, o maior deles nas imediações do Viaduto Brigadeiro Trompovski, que liga a Ilha do Governador à Avenida Brasil. Já a passarela recém-liberada que fica perto da Fiocruz, em Manguinhos, está pichada e já virou moradia para sem-teto. Mato e lixo se acumulam em trechos não concluídos do BRT.
Até agora foi gasto R$ 1,1 bilhão no Transbrasil e, até o fim do contrato, serão mais R$ 270 milhões. A Secretaria de Infraestrutura afirma que a sinalização das obras é adequada e que eventuais reparos são da responsabilidade dos empreiteiros. Em nota, o consórcio construtor informou que o cronograma de execução segue de acordo com a disponibilidade financeira da prefeitura, com “cinco grandes frentes de trabalho e cerca de dois mil trabalhadores.”
Fonte: O Globo
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