Internacional. Deputados suecos renunciam às suas candidaturas após violarem regra de uso de transporte público

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Na singular democracia sueca, onde políticos não têm direito a carro com motorista, pegar um táxi ou alugar um veículo com o dinheiro do contribuinte – em vez de viajar de trem – é motivo suficiente para enterrar a carreira de um deputado. Às vésperas das eleições gerais desse domingo (9), três parlamentares de diferentes partidos da Suécia foram obrigados a renunciar às suas candidaturas, após revelações de que descumpriram as regras que priorizam o uso do transporte público por todos os políticos do Parlamento.
Entre as vítimas está o deputado Michael Svensson, do conservador Partido Moderado – a segunda maior força política do país. Nos últimos quatro anos, Svensson violou as normas ao cobrar do Parlamento o ressarcimento de pelo menos 15 mil coroas suecas (cerca de R$ 6.800) que gastou com aluguel de carros durante visitas a diferentes regiões na Suécia. Porém, nas datas das supostas viagens de trabalho, ele se encontrava no exterior.
A denúncia foi feita pelo jornal sueco "Aftonbladet", que conduziu uma varredura nas prestações de contas de todos os membros do Parlamento. Svensson calcula ter cobrado indevidamente o Parlamento por viagens pessoais no valor de 4 mil coroas, e não 15 mil.
“Ao mesmo tempo, posso dizer que 4.000 coroas é muito dinheiro. Mil coroas já seria muito”, disse o deputado em coletiva à imprensa. “Não fui cuidadoso nas prestações de contas, mas não fiz isso de maneira consciente. Não sujaria meu nome por 4.000 coroas”, ele jurou.
Svensson procurou o Parlamento para retificar as informações acerca do pedido de ressarcimento das viagens que realizou, e pagar de volta aos cofres públicos o dinheiro recebido indevidamente. Em seguida, o deputado anunciou a renúncia à sua candidatura. E também o fim da sua carreira política.
“Infelizmente, ao agir de maneira errônea, eu contribuí para suscitar o desprezo dos cidadãos por políticos”, admitiu Svensson, afirmando lamentar profundamente o que fez.
Questionado sobre o que levou a abandonar de vez a política, Svensson pontuou: “Senti que a minha imagem pública foi fortemente manchada.”
“O que vai fazer agora, deputado?”, perguntou a ele um repórter. “Vou começar a pensar no que vou fazer com o resto da minha vida”, respondeu o agora ex-parlamentar, de 61 anos.
Táxi derruba candidatura de deputado
Outra vítima produzida esta semana pela varredura das contas dos parlamentares foi Stefan Jakobsson, do partido anti-imigração Democratas da Suécia: o deputado cometeu o desatino de gastar um total de 330 mil coroas (cerca de R$ 150 mil) com corridas de táxi, nos últimos quatro anos. “Jakobsson fez os contribuintes pagarem por suas viagens de táxi privadas”, estampou o jornal "Aftonbladet" em sua manchete.
Assim como todos os parlamentares suecos, Jakobsson recebe um cartão anual para usar gratuitamente os transportes públicos. Mesmo assim, ele escolheu usar o táxi para percorrer os 13 quilômetros de distância entre sua casa e o Parlamento. E fez isso em mais de cem ocasiões. O deputado também usou o táxi para visitar amigos e fazer pequenas viagens.
Na improvável tentativa de se defender perante o eleitorado sueco, Jakobsson argumentou que não conhecia suficientemente as regras, e que como não era de Estocolmo, não conhecia bem o sistema de transportes. “Mas você poderia ter usado o táxi com seu próprio dinheiro, como fazem todos os cidadãos”, retrucou o repórter do "Aftonbladet".
Como lembrou o jornal, membros do Parlamento sueco têm direito de usar táxi apenas quando não é possível usar os meios públicos de transporte. Ou quando há alguma razão especial para usar o táxi, em vez de tomar o trem. Em alguns casos, por razões de segurança, a administração do Parlamento pode recomendar o uso do táxi para o transporte de parlamentares. Mas este não parece ter sido o caso de Jakobsson.
No ano passado, o setor de administração do Parlamento sueco chegou a descontar do salário de Jakobsson o valor de cerca de 20 viagens de táxi feitas pelo parlamentar, por considerar que violavam as regras permitidas. Após as revelações do "Aftonblabet", o próprio Stefan Jakobsson contactou o Parlamento a fim de prestar informações sobre corridas de táxi feitas por ele com fins privados, “a fim de que o valor correspondente seja descontado do salário”.
O deputado também postou um pedido de desculpas em sua página no Facebook, dizendo que não foi cuidadoso com suas despesas pessoais de táxi. Também disse compreender a indignação dos cidadãos, diante dos altos custos de optar pelo táxi em vez de usar os transportes públicos. Em seguida, anunciou a sua renúncia.
“É sempre minha intenção fazer as coisas de maneira correta, e corrigir meus atos sempre que cometo erros. Mas as acusações e suspeitas dirigidas agora contra mim dificultam as chances de meu partido vencer as eleições de 9 de setembro”, escreveu o deputado em um comunicado à imprensa, ao anunciar a renúncia à sua candidatura.
Stefan Jakobsson era o porta-voz do partido Democratas da Suécia para assuntos de educação, e uma das principais lideranças da sigla de extrema-direita. Mas a retirada da candidatura do deputado foi aplaudida pelo próprio líder partido, Jimmie Åkesson.
“Foi uma decisão sábia”, disse Åkesson à agência de notícias sueca TT. “Ele agiu de maneira incorreta. E é bom que a denúncia tenha sido feita antes das eleições, para que a candidatura possa ter sido retirada a tempo. Compreendo perfeitamente que o eleitor esteja totalmente desapontado com um deputado que cometeu o mesmo erro várias vezes”, acrescentou o líder do partido.
Família de deputada voltou de passeio no parque com carro alugado
A terceira vítima da atual campanha eleitoral foi Penilla Gunther, do partido Democrata Cristão (KD): ao verificar as prestações de contas da deputada, o jornal "Aftonbladet" descobriu que ela pediu ressarcimento pelo aluguel de carros para fazer diversas viagens pessoais, durante seus quatro anos de mandato.
“Em uma das ocasiões, Penilla Gunther alugou um carro para retornar com a família de um parque de diversões em Estocolmo para sua casa na cidade de Trollhättan, e os contribuintes suecos tiveram que pagar a conta de 4.000 coroas (cerca de R$ 1.800)”, denunciou o "Aftonbladet". Resultado: a deputada não apenas retirou sua candidatura à reeleição, como deixou de imediato suas funções no Parlamento.
“Peço desculpas por ter errado”, disse Penilla Gunther em comunicado à imprensa. “Aguardo uma resposta definitiva do setor de administração do Parlamento sobre quais viagens devem ser descontadas de meu salário. Mas retiro imediatamente minha candidatura ao Parlamento. E prometo pagar o que devo.”
Fonte: G1 Mundo 

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