Prioridade para usuário de ônibus

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Os desafios impostos pelas limitações que persistem no sistema de transporte coletivo continuam se avolumando, e em proporções bem superiores às modestas soluções, estas, quando muito, meramente paliativas. As grandes metrópoles sentem isso, com reflexos sobre uma população usuária cada vez mais tensa e estressada, principalmente aquela  que, todo dia, suporta horas seguidas para se deslocar de casa ao trabalho. Milhares de cariocas são atores compulsórios dessa tragédia urbana.
No gritante desacordo entre o volume dos problemas e os recursos orçados para enfrentá-los, há o complicador da qualidade das frotas, jamais suficientemente confortáveis e eficientes, sob medidas que, em situação diferente, pudessem levar a população de classe média a se sentir estimulada a deixar os carros nas garagens e estacionamentos, e confiar mais nos ônibus. Fossem eles postos em tráfego com boas condições, milhares de veículos particulares poderiam ser destinados a eventualidades e lazer dos fins de semana.
Em relação ao Rio de Janeiro e São Paulo teme-se que se possa chegar ao dia em que, tal como ocorreu certa vez em Seul, as garagens dos edifícios acabaram transformadas em prisões de carros e motoristas, sem terem como sair, por causa dos longos congestionamentos nas ruas. Na capital coreana e em várias outras grandes cidades, condenadas ao mesmo impasse, foi possível solucionar ou minimizar o problema com o aperfeiçoamento do sistema de transporte coletivo.
Os dois maiores centros populacionais do país são, exatamente por isso, os mercados que ampliam as frotas de veículos particulares, exigindo mais das sufocadas ruas e avenidas, que já não têm como se expandir para os lados e para os extremos. Podem se tornar proibitivas, mesmo com experiências emergenciais, como a paulistana de fixar dias alternados para placas pares e ímpares.
Outra solução que vem sendo discutida, frequente e experimentalmente em cidades de porte médio, quer sensibilizar as populações a adotarem o deslocamento compartilhado. Um apelo a deixar o carro na garagem e lançar mão da internet e dos aplicativos para obter a graça da carona. Os projetos-piloto são um teste para o espírito de solidariedade; o que, vale dizer, é receber passageiros de um mesmo destino, e, a um só tempo, contribuindo para reduzir o número de veículos no asfalto, economia de combustível e de tempo, além da guerra aos resíduos do carbono, que degradam o meio ambiente.
Um dado que concorre para estimular a criação de redes corporativas, como forma de aliviar o peso do tráfego, está na observação sobre a ocupação dos veículos, geralmente para cinco passageiros, mas com espaços ociosos. Em uma cidade da dimensão do Rio de Janeiro estima-se que 64% dos carros deslocam-se com apenas um ocupante, além do motorista. Por que não acolher o vizinho, que sai no mesmo horário e para lugares próximos?
À medida em que as dificuldades vão se acentuando nesse setor, o tempo se torna curto para a adoção de medidas, sejam paliativas ou definitivas, além da evidência de que metrô e os elétricos de superfície ajudam, mas não totalmente.
Mas o que se impõe, acima de qualquer outra ação ou ideia inovadora, é revolucionar a estrutura do transporte coletivo, de forma a oferecer qualidade, segurança e tarifas justas. Sem embargo de uma observação oportuna: entende-se por tarifa justa aquela que cobre o custo do serviço e a depreciação das frotas e destina remuneração honesta ao concessionário, mas sem a generosidade das propinas denunciadas com frequência.
Fonte: Jornal do Brasil

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