Corrida dos transportes em Fortaleza: usuário define o melhor custo-benefício

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Mover-se é um imperativo para trabalhar, acessar serviços de Educação e Saúde, resolver problemas ou sorrir em momentos de lazer. De preferência, sem atrasos. Desobstruir as vias urbanas inchadas pelos 3,122 milhões de veículos registrados no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) é um desafio para as administrações públicas cearenses, que veem em meios de transporte coletivos uma saída para os transtornos. Muitos usuários têm escolhido, por mais conforto, economia de combustível ou alívio do estresse no trânsito, deixar carros e motos na garagem e escolhido outros modais para seguir caminho.
Ao longo desta semana, a reportagem fez um teste comparativo entre ônibus, táxi, Uber, mototáxi e Bicicletar em Fortaleza, a fim de verificar a eficiência de cada um e distinguir as diferenças entre eles. O horário das saídas foi sempre o mesmo, às 10h. O tempo de viagem e a velocidade média foram aferidas através de um aplicativo com GPS.
No táxi, a corrida inicia com a bandeirada de R$4,76. O percurso é facilitado pelo uso da faixa exclusiva de ônibus. Já no veículo da Uber, fica mais fácil prever qual será o valor final da viagem através do aplicativo. Nos dois, as experiências são semelhantes, e o conforto fica por conta do ar-condicionado. O mototáxi, embora seja mais rápido ao se utilizar de corredores entre carros, tem a desvantagem do sol forte da cidade. Alguns usuários também podem não gostar da sensação de insegurança, apesar do uso do capacete.
Por meio do aplicativo Meu Ônibus, é possível saber a previsão de chegada dos veículos da linha 222 - Antônio Bezerra/Antônio Sales/Papicu. No entanto, o tempo de espera deve ser levado em consideração, bem como a quantidade de paradas no trajeto, que tendem a aumentar o tempo total da viagem.
Já a bicicleta garante maior liberdade ao usuário ao permiti-lo definir a velocidade do percurso. A propulsão humana permite o gasto calórico (segundo o aplicativo, foram 124 kcal), além de evitar a emissão de poluentes. As desvantagens ficam por conta dos buracos na ciclofaixa e pelo desrespeito de motoristas de carro e moto, que insistem em ocupá-la ao estacionarem ou pararem no sinal vermelho.
Em suma, o tempo de trajeto com modais de transporte diferentes teve poucos minutos de diferença. Contudo, vale ressaltar que a área escolhida para o comparativo é equipada com faixas exclusivas para ônibus e ciclofaixas contínuas, modelos que não existem em todos os corredores da Capital. Conclui-se que uma cidade planejada para uma rede de transportes mista tende a aproximar os resultados do percurso.
Consolidar e qualificar o transporte público e o sustentável, principalmente a bicicleta, são metas da Prefeitura, conforme o secretário-executivo de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia. "Há 12 anos, Fortaleza tinha 400 mil veículos. Hoje, tem 1,1 milhão. Qualquer cidade grande do mundo, nos horários de pico, vai ter um nível de saturação de tráfego. Nossa grande busca é fazer com que haja alternativas ao transporte individual, e que os modais complementares sejam viáveis para pequenas e medias distâncias", salienta.
Reduzir acidentes e mortes no trânsito também é "uma obsessão" da Pasta, segundo Sabóia. "Quando se fala em mobilidade urbana, se pensa em fluxo. Mas não pensar em segurança viária é um erro. Preservar a vida é essencial. Para cada evento de morte, há outros 60 acidentes com vítimas feridas - a imensa maioria, homem e pai, que precisa se ausentar do trabalho e coloca o sustento da família em xeque. Acidente não é fatalidade. Podemos combater e evitar o impacto na saúde pública", diz.
Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, a cidade precisa de sistemas de transporte de maior envergadura porque "só o convencional não dá conta". Nesse caso, o Bus Rapid Transit (BRT), como o implantado na Avenida Bezerra de Menezes, seria uma solução mais viável que o metrô, e com capacidade semelhante.
Na contramão, no Interior, não é necessário um sistema de tráfego tão hierarquizado. "A velocidade vai ser baixa e, o fluxo, menor. A maioria das necessidades se resolve a pé ou de bicicleta", afirma, defendendo a criação de oportunidades para se evitar a migração para outras regiões do Estado.
Saiba mais
Cidades com serviço de trem (2): Fortaleza e Caucaia
Cidades com serviço metroferroviário (6): Crato, Juazeiro do Norte, Sobral, Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba
Cidades com serviço de avião (5): Cruz, Fortaleza, Jijoca de Jericoacoara, Juazeiro do Norte e São Benedito
Cidades com serviço de transporte por barco (7): Camocim, Caucaia, Choró, General Sampaio, Jaguaribara, Orós e Pentecoste
Cidades com serviço  de ônibus intramunicipal (32): Aquiraz, Aracati, Barbalha, Bela Cruz, Boa Viagem, Canindé, Caucaia, Crato, Eusébio, Fortaleza, Horizonte, Icó, Irauçuba, Itatira, Jaguaribara, Jaguaribe, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Massapê, Meruoca, Missão Velha, Morada Nova, Moraújo, Pacatuba, Paracuru, Paramoti, Pedra Branca, Redenção, São Gonçalo do Amarante, Sobral e Trairi
Cidades sem serviço de moto táxi (4): Icapuí, Martinópole, Moraújo e Senador Sá
Cidades sem serviço de transporte complementar -  Vans e Topics (11): Camocim, Catunda, Eusébio, Groaíras, Hidrolândia, Ipueiras, Itaiçaba, Itarema, Madalena, Paramoti e Quixadá
Fonte: Munic 2017/IBGE
98% das cidades têm mototáxis
Das 184 cidades cearenses, apenas quatro - Icapuí, Martinópole, Moraújo e Senador Sá - não dispõem da circulação de mototáxis, ou seja, o serviço cobre quase 98% de todo o Estado, conforme a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2017, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) esclarece que, por se tratar de um serviço municipal, os mototaxistas são credenciados pelas prefeituras locais. Na Capital, conforme a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), 2.209 mototaxistas são credenciados. O ingresso de um indivíduo junto ao Serviço de Mototáxi do Município se dá por meio de licitação, "quando houver, e também através de transferência de permissão que está amparado pela Legislação que o disciplina".
De acordo com André Santiago, presidente do Sindicato dos Mototaxistas de Fortaleza (Sindmotofor), a Uber levou à queda de mais de 60% das viagens realizadas de moto. Com a perda nos lucros, observa, muitos pilotos estão migrando para outras ocupações. "Para trabalhar, a gente passa por muito curso de formação e tem muita exigência. Agora Uber roda frouxo, sem burocracia", reclama.
A categoria cobra o uso das faixas exclusivas de transporte público, recurso vetado pelo prefeito Roberto Cláudio em 2015 sob as justificativas de que a aprovação comprometeria a velocidade dos ônibus e que potencializaria riscos de acidentes. Defende ainda a precificação do serviço de mototáxi pela Prefeitura, uma vez que, hoje, cada profissional define por si próprio a quantia a ser cobrada.
A Prefeitura de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, afirma que autoriza 184 mototáxis para o serviço - novos só serão credenciados "quando for avaliada a necessidade de se aumentar a frota ou quando vencer a licitação que concedeu a licença aos atuais", em 2025. Em Sobral, na Região Norte, são 753 mototaxistas. Já o Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) de Juazeiro do Norte contabiliza 1.710.
"O mototáxi é uma alternativa mais barata que dá mais suporte para as viagens realizadas fora da linha de ônibus, a um nível razoável. Ele acaba cobrindo uma lacuna em cidades mais pobres", destaca o professor de Engenharia de Transportes da UFC, Mário Azevedo.
Táxis
O levantamento do IBGE também mostra que as vans de transporte complementar estão em 173 cidades (94%), e, os táxis, em 159 (86%). Em Fortaleza, há hoje 4.886 permissões de táxi, após a criação de 3 mil vagas, em junho. Até a última terça (17), 1.550 autorizatários apresentaram os documentos necessários para o credenciamento, segundo a Etufor. O prazo final para dar entrada é 31 de julho.
Em Caucaia, são 220 taxistas e 34 vans credenciadas junto à Autarquia Municipal de Trânsito (AMT) do município. O Demutran de Juazeiro do Norte também tem, cadastrados, 355 táxis convencionais e 48 vans. Em Sobral, segundo o coordenador de Mobilidade da Prefeitura, Saulo Passos, há 200 vagas de táxi e 143 vans distritais.
O Detran-CE também informou que, atualmente, há 955 vans regularizadas para transporte intermunicipal no Estado. Fortaleza, Sobral, Juazeiro do Norte, Iguatu e Quixadá são, nessa ordem, os principais destinos atendidos. O órgão de trânsito também declarou que, nas fiscalizações, as infrações mais comuns são a superlotação e o descumprimento de horários.
Entrevista com Dalton Alves*
"Um sistema de trânsito só pode ser concebido onde cabe"
Quais são os principais gargalos do trânsito no Estado do Ceará?
Depende da realidade do município. Nos de maior porte, os problemas se agravam, e o transporte público é a solução mais indicada pra diminuir as fragilidades do nosso trânsito. À medida em que temos sistemas de transporte público mais eficientes, que atendem às necessidades da população, existe uma migração, ainda que não tão perceptível, dos modais individuais para os coletivos.
O ônibus é a melhor saída?
O uso da tecnologia veicular depende dos estudos de demanda. A gente sempre parte do pressuposto de que a solução ideal é, sim, o ônibus, mas, em linhas de curta demanda, que não justificam veículos dessa capacidade, se opta por micro-ônibus. Nas cidades do Interior (onde poucas são de grande porte), o ônibus não é utilizado justamente por isso.
Como você avalia a grande presença de táxi e mototáxi nas cidades?
Isso reflete o fato de que os sistemas de transporte público não são eficientes, ou nem existem, na maioria dos municípios. Se o cidadão não tem acesso a um transporte público adequado, que, via de regra, é mais barato, ele é obrigado a optar por esses. Dos pontos de vista técnico, urbanístico e de trânsito, não é razoável que a gente tenha essa proporção.
Qual é o papel da integração?
Só um metrô não dá a capilaridade que o cidadão precisa para chegar ao destino. Isso é feito pelo transporte rodoviário. Quanto mais modais inseridos nessa integração, melhor. Quando ele tem um maior leque de opções, o próprio passageiro constroi a melhor forma de se deslocar, cria as próprias integrações que interessam a ele.
*Engenheiro civil do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE)

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