Mais da metade das linhas do Rio roda com menos ônibus do que deveria

A linha 226, que liga o Grajaú ao Largo da Carioca, deveria ter dez carros na rua, mas circulou com um na última terça-feira
Foto: Geraldo Ribeiro
A longa espera por ônibus tem explicação. De 375 linhas regulares do Rio, 229 (61%) estão circulando com menos veículos do que deveriam. Segundo a Secretaria municipal de Transportes (SMTR), os consórcios têm obrigação contratual de manter, no mínimo, 80% da frota em circulação. A exceção fica por conta das linhas com até quatro veículos, que devem manter 100% dos coletivos nas ruas. Um levantamento feito por EXTRA e O Globo, com base no cruzamento de informações de GPS dos ônibus e da planilha da frota determinada em fevereiro — ambas disponibilizadas pela prefeitura, na internet —, comprova as causas do calvário dos cariocas.
Das linhas que desobedecem o cumprimento da frota determinada, 93 (24,8%) rodam com menos da metade dos veículos que deveriam ter nas ruas. Há ainda 60 que circulam com menos de três carros. Veja abaixo a relação entre a frota determinada e a que está na rua das linhas que mais descumprem a ordem.
Um acompanhamento feito durante três dias não mostrou grandes variações nos dados coletados, o que comprova o descaso das empresas (provando que não são exceções à regra). Os números aqui mostrados são da última quarta-feira, num monitoramento entre a zero hora e as 19h20. O estudo desconsiderou quatro linhas que têm GPS mas não aparecem na listagem de frota definida e os serviços variantes, que utilizam a frota da linha original para fazer trechos específicos do itinerário num determinado momento do dia.
Entre os casos mais discrepantes está o da Troncal 10 (Jardim de Alah - Cruz Vermelha), cuja frota estabelecida pela prefeitura é de 38 veículos, mas teve apenas um em circulação na quarta-feira. Usuária da linha, Amanda Santos, de 17 anos, moradora no Leblon, desistiu dela:
— A demora, que inicialmente era de 20 minutos, passou para mais de uma hora.
Número total de veículos considera demanda e itinerário
No outro extremo, a linha 100 (Troncal 1), que faz General Osório - Central do Brasil, itinerário coberto por metrô, circulou na terça-feira com 58 ônibus, 11 acima do determinado, o que também não é permitido. Na quarta, o número foi tão alto quanto: eram 55 na rua.
Segundo a SMTR, o estabelecimento de frota foi feito por meio de um estudo técnico, à época do edital de licitação das linhas, em 2010, considerando a demanda e o itinerário. Tanto rodar com menos carros como com mais do que deve é irregularidade passível de multa, no valor correspondente a 520 UFIR/RJ (cerca de R$ 1.700).
Dez mais da desobediência
Na semana passada, os ônibus que sobravam para os passageiros da Troncal 1, sobrecarregando o trânsito, faltaram para os usuários das linhas 218 (Vila Isabel - Candelária) e 226 (Grajaú - Carioca). Na quarta-feira, as duas linhas circularam com apenas um ônibus cada uma, quando deveriam ter 12 e 10, respectivamente, nas ruas.
— Demora muito. As pessoas preferem ir até a Teodoro da Silva e pegar o 232 (Lins - Castelo), que também serve para o Centro. Se depender dele, estamos perdidos — reclamou o vigilante Luiz Cláudio da Costa, de 50 anos, sobre o 218.
A promotora Christiane Cavassa, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Consumidor e Contribuinte do Ministério Público (MP), disse que há mais de 120 ações civis públicas na Justiça que cobram soluções para os problemas no modal. Muitas são anteriores ao imbróglio sobre o preço da passagem.
— O MP está reunindo essas ações. Estamos numa fase de juntar informações. Queremos ter uma noção do grau de descumprimento para decidir a melhor estratégia para agir— afirma Christiane.
A judicialização nem as multas resolvem o caso, na opinião do engenheiro de Transportes Alexandre Rojas, da Uerj:
— Temos um conflito sem solução, a não ser que as partes sentem e negociem um acordo.
Já a vereadora Teresa Bergher (PSDB) insiste na saída judicial. Ela anunciou que entraria com um requerimento junto à prefeitura hoje, pedindo informações sobre o tamanho da frota mantida nas ruas, para encaminhar ao Ministério Público:
— O MP tem que ser envolvido, já que a aprefeitura não faz sua parte. Não há fiscalização, o que seria a medida mais eficiente.
Secretário diz que só responde ‘por escrito’
Sem resposta
Procurado por telefone, na sexta-feira, o secretário de Transportes, Diógenes Dantas Filho, que assumiu em abril, em cinco minutos de conversa repetiu várias vezes que a reportagem “entrasse em contato por escrito”.
O que disse a SMTR
Durante a semana, foram feitas várias trocas de e-mails com a assessoria da SMTR. O órgão informou, por nota, que de janeiro até agora foram aplicadas 1.576 multas aos quatro consórcios, por descumprimento de frota. Mas não disse quantas foram pagas. Informou ainda que foi iniciado o processo de seleção de PMs da reserva para recompor equipe de fiscalização, hoje formada por 78 agentes. Informou também que a possibilidade de intervenção é prevista em lei.
O que dizem as empresas
Também procurado mais de uma vez, o RioÔnibus informou apenas que as empresas estão com sua operação impactada pela pior crise do setor e trabalha para regularizar a situação o mais breve possível.
Fonte: Jornal Extra

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