Porto Alegre-RS. 'Carris está com os dias contados', diz Marchezan

FOTO: /MARCO QUINTANA/JC 

Embora a assessoria de imprensa da prefeitura de Porto Alegre garanta que nada foi discutido ainda, o prefeito Nelson Marchezan Júnior garantiu, em entrevista à Rádio Guaíba, na tarde de ontem, que a Carris, principal empresa de transporte público da Capital, está "com os dias contados". O prefeito também transmitiu a entrevista ao vivo no Facebook. 
Alegando que uma análise financeira da Carris já foi feita, Marchezan explicou que a administração da companhia pela máquina pública é "inviável". Segundo o prefeito, a Carris consome, dos cofres municipais, R$ 60 milhões por ano, "valor que é retirado da saúde e da educação". De acordo com o prefeito, ainda não se sabe qual será o destino da empresa. "Se vai ser privatização, extinção, licitação das linhas... Enfim, vamos buscar o formato jurídico a partir de agora. A meta sempre foi o interesse público, e, do ponto de vista do interesse público, a administração pela máquina pública não é viável. Temos que buscar alternativas para não ter mais essa despesa de R$ 60 milhões", argumentou. Ele explicou que não há como competir com o setor privado no setor de transporte público, uma vez que os pneus, as peças, a manutenção e as despesas com pessoal são muito altas. No entanto, para Alceu Weber, membro do Conselho Municipal de Transporte Urbano (Comtu), a Carris é uma empresa viável, sim. "O que torna inviável é a forma de administrar. A gestão atual é ineficiente, administrativamente falando. O prefeito não tem nada de bom gestor, é um bom politiqueiro apenas. Para que dê lucro, é preciso que tenha bons administradores", alega. A declaração de Marchezan, para Weber, se trata de uma defesa da questão. "Ele sabe que isso vai ter que passar pela Câmara (de Vereadores) e que não tem maioria lá."
Mesmo assim, o representante do Comtu acredita que seja necessário repensar a administração da Carris. "Mesmo com toda a precarização e com toda a dificuldade operacional, a empresa ainda é considerada a melhor pelos usuários. O sistema de transporte tem de ser pensado de maneira macro. Ele está em colapso devido a uma série de atitudes, e não adianta correr por meio do preço da passagem, isso só vai espantar o usuário", argumenta Weber. Para ele, uma das medidas imediatas que poderiam ser tomadas pelo prefeito é a retirada dos funcionários comissionados e dos contratados em regime de cargo de comissão, algo que, na opinião do conselheiro do Comtu, foi o que mais onerou a Carris. Em 2015, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 90, que introduz o transporte como um direito social, ao lado da saúde, da educação e da segurança pública, por exemplo. Por isso, Weber acredita que o argumento de que o dinheiro que seria investido nesses setores está sendo desviado para a Carris não é válido. "Ele não pode dizer que retira dinheiro da educação e da saúde para colocar no transporte público. Ao dizer isso, comete um dos maiores equívocos", rebate. 
O representante do Comtu ainda critica a postura da prefeitura de responsabilizar as gratuidades pelo colapso do sistema do transporte público na Capital. O erro, na opinião dele, foi que, quando da aprovação da gratuidade da segunda passagem, deveria ter sido especificado de onde sairia a receita para cobrir esse gasto. A insistência em discutir questões como implementação de ar-condicionado e de GPS também é considerada secundária para Weber. "O usuário quer eficiência, eficácia e efetividade. Se o sistema for assim, o usuário vai optar por ele. Temos de discutir eficácia, não qual fatia vai ser dada ao empresário, que só está interessado na quilometragem, e não na qualidade do serviço", critica.

De Suzy Scarton
Informações: Jornal do Comércio RS

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