Serviço de ônibus que atende alunos de locais no Rio sem transporte público está ameaçado
Foto: Fabiano Rocha/Extra |
Além da preocupação habitual com desempenho escolar dos filhos na reta final do ano letivo, pais de alunos da Zona Oeste que dependem do Ônibus da Liberdade tiveram um motivo a mais para apreensão esta semana: o medo de ficar sem o serviço, que atende cerca de 75 mil estudantes, segundo dados da Secretaria municipal de Educação. A frota de 256 coletivos é a única forma de acesso à escola para essas famílias, que vivem em áreas sem transporte regular.
— Onde moro não tem opção de ônibus ou van. Mesmo se tivesse, gastaria quase R$ 15, por dia, pois são dois filhos em escolas diferentes, em Santa Cruz e Sepetiba. Um transporte particular não cobraria menos de R$ 200 por mês — afirmou Elisângela Viegas, de 29 anos, moradora do Conjunto Santa Veridiana, em Santa Cruz.
O serviço, oferecido pela prefeitura desde 2004, vem passando o ano na corda bamba. Segundo os pais, a primeira ameaça foi de corte de 30% da frota. Depois, vieram os atrasos nos repasses da prefeitura para as quatro empresas que operam o transporte. Na falta de informação oficial, pais criaram um grupo no Whatsapp (SOS Liberdade) para se manterem informados, até mesmo se teriam o transporte garantido no dia seguinte.
Segundo o vereador Carlo Caiado (DEM), que acompanha a situação desde o início do ano, a dívida da Prefeitura do Rio com as empresas é de três meses (julho, agosto e setembro). O município, no entanto, admite apenas que ainda não pagou o último mês. As empresas não quiseram se manifestar, mas funcionários contaram que na semana passada foram informados dos risco de suspensão do serviço.
A dona de casa Fátima da Silva, de 25 anos, moradora de Sepetiba, diz que depende do serviço para que a filha e o filho estudem:
— Onde a gente mora é precário. Não tem saneamento nem transporte público. Até os carros têm dificuldade de entrar, porque as ruas são ruins. Sem o Ônibus da Liberdade meus filhos vão sair da escola. Ela fica distante. Não dá para a gente ficar sem esse serviço. Começamos a ficar preocupados desde a semana passada com as notícias de que o serviço podia parar.
A Secretaria municipal de Educação diz que as empresas receberam repasses até agosto, mas admitiu que não pagou setembro. O órgão afirma que as Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) têm contratos e formas de pagamentos diferenciados e algumas pagam por cotas. A 8ª CRE já tem previsto o pagamento de setembro, cuja data mudou por conta de decreto, diz a secretaria. As outras estão ainda providenciando a documentação para fazê-lo. O projeto tem custo anual de R$ 80 milhões, segundo a prefeitura.
Sem o Ônibus da Liberdade, o auxiliar de serviços gerais Renato Oliveira de Paula, de 30 anos, calcula que teria de caminhar mais de uma hora para levar os filhos Guilherme, de 7 anos, e Júlia, de 5, para a escola, em Nova Sepetiba. Sem saber se os coletivos estavam circulando, o morador do Conjunto Santa Veridiana, em Santa Cruz, levou as crianças para aula de bicicleta na quinta-feira.
Para a dona de casa Rosicleia Vital de Souza, de 48 anos, o serviço é fundamental. É que, além dos dois filhos, Maria Rosa, de 14 anos, e Maria Rita, de 9, a moradora do Conjunto Santa Veridiana é responsável por levar para a escola, em Nova Sepetiba, mais oito crianças com idades entre 6 e 8 anos, filhos de vizinhos que trabalham fora.
— As minhas filhas, eu traria andando, mas não dá para fazer o mesmo com dez crianças. É muita responsabilidade. Esse ônibus me garante uma tranquilidade — define a mãe.
O serviço
Os ônibus operam 47 linhas. Pela manhã, recolhem os alunos e seus responsáveis, que são levados de volta para casa. Na saída, buscam os pais primeiro. O serviço garante transporte para alunos da 7ª, 8ª, 9ª, e 10ª CREs, todas da Zona Oeste. A frota conta com cinco micro-ônibus e 14 ônibus adaptados. Cada veículo circula com um motorista e um monitor. Os adaptados têm dois monitores.
Informações: Jornal O Extra
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