Terminal do BRT no Centro Olímpico recebe apenas 200 passageiros por dia

Gustavo Miranda / Agência O Globo

A lista de obras subutilizadas da Olimpíada e da Paralimpíada de 2016 inclui até um terminal de ônibus. Bonito, moderno, grandioso, mas que vive quase às moscas. Um ano depois das competições, em média, 200 passageiros pagantes ingressam por dia no BRT pelo Terminal Centro Olímpico, na Barra, segundo o consórcio que administra o sistema. O lugar até deve ficar lotado durante o Rock in Rio, a partir da semana que vem, por ser o principal ponto de embarque e desembarque do público do festival. Mas o cenário cotidiano por lá é outro. Fazendo uma comparação, os passageiros que passam pela estação seriam suficientes para encher apenas um veículo do modelo superarticulado que circula pelos corredores expressos da cidade. É uma quantidade equivalente a menos de 10% dos 2.200 usuários/dia para a qual a área foi projetada. E que não chega perto das mais de 60 mil pessoas que chegaram a utilizá-la em um único dia de Olimpíada, quando foi a mais importante porta de entrada para o Parque Olímpico.
Resultado: plataformas novas, desertas a maior parte do tempo, numa cidade e numa Região Metropolitana onde não raramente quem precisa do transporte público convive com rodoviárias e terminais superlotados, muitos deles malconservados. Os passageiros, sem dificuldades, logo identificam possíveis motivos para o movimento aquém do esperado.
APENAS UMA LINHA DE ÔNIBUS
Apesar de ter sido planejado para ser a conexão dos BRTs Transolímpico e Transcarioca, de fazer parte do Viário da Barra (que custou cerca de R$ 514 milhões) e de ficar no entroncamento de duas das avenidas de maior fluxo da região (Embaixador Abelardo Bueno e Salvador Allende), o terminal encara ainda o vazio de seu entorno. Na vizinhança, as arenas esportivas que receberam os atletas no ano passado se mantêm pouco utilizadas, e o edifício do Centro de Imprensa dos Jogos tornou-se um prédio fantasma, à espera de um comprador.
Perto dali, restaram somente 20 famílias na comunidade Vila Autódromo, removida para as obras olímpicas. Nas adjacências, ainda são vários os terrenos desocupados. Além disso, moradores e trabalhadores de condomínios que existem nas imediações contam com outras estações de BRT mais próximas. Já dentro do terminal, uma única linha faz ponto nas plataformas despovoadas: o parador Jardim Oceânico-Centro Olímpico. Nenhuma linha alimentadora utiliza o espaço, segundo o consórcio do BRT, devido ao custo e à dúvida sobre demanda para isso.
O lugar só não é mais desabitado porque é ligado, por uma passagem subterrânea, à estação Morro do Outeiro. Nesta última, os usuários dos itinerários do Transolímpico (Vila Militar-Recreio) podem descer e caminhar até o terminal, onde fazem a baldeação para os ônibus do Jardim Oceânico, ou vice-versa. O BRT não tem estimativas de quantas pessoas realizam esse transbordo. Mas o número não é suficiente para ocupar a capacidade ociosa da estação, até porque o Transolímpico também opera com passageiros abaixo da expectativa: 30 mil por dia, quando se estimavam 70 mil.
— Na primeira vez que usei o Centro Olímpico, estava tão vazio que pensei que eu tinha errado o caminho, que estava perdido — afirma Gabriel de Vasconcelos Pedro, morador de um condomínio em frente ao Parque Olímpico, que faz ainda outra queixa comum aos usuários do terminal: a dificuldade de acesso ao lugar.
Além da baldeação pelo Morro do Outeiro, somente uma passarela sobre a Avenida Abelardo Bueno dá acesso às plataformas, com subida perto do Parque Olímpico, mas no lado oposto aos prédios residenciais da região. Os empecilhos não param por aí. Mês passado, a bilheteria do terminal permaneceu quase sempre fechada. O passageiro que precisasse comprar ou recarregar seu cartão Riocard para usar o BRT tinha de recorrer a uma única máquina de autoatendimento. Mas ela não dava troco, avisava um segurança no local.
— Uso a linha do Jardim Oceânico. Mas, sendo sincero, se o Parque Olímpico estivesse funcionando plenamente, esse terminal seria muito mais benéfico à população. Com o Rock in Rio, que já está chegando, vai ficar cheio de novo — opina o aposentado Alceu Dias, morador de um condomínio próximo ao BRT.
Para piorar, com a pouca demanda, os passageiros dizem que o intervalo entre os ônibus, sobretudo fora da hora do rush, é grande. Uma espera que pode chegar a 40 minutos, afirma a passageira Adriana Pereira, moradora da Colônia Juliano Moreira. Até a Barra, ela pega um BRT pelo Transolímpico, desce no Morro do Outeiro e faz a baldeação no terminal, onde fica aguardando a última condução do trajeto. Uma complicada operação que já está provocando uma mudança de hábitos:
— Não vou mais ao shopping na Barra. É mais rápido eu pegar um BRT no sentido contrário e ir para Sulacap.
‘UM ELEFANTE BRANCO’, DIZ ESPECIALISTA
Uma comparação com outros terminais dos corredores expressos deixa clara a subutilização do Centro Olímpico. Só no Jardim Oceânico, são 60 mil passageiros por dia. Na Alvorada, entram 17 mil pagantes, desembarcam 17 mil e 34 mil passam pelas plataformas vindos da Transoeste e transferindo-se para a Transcarioca, ou vice-versa. Embora pouco usado, contudo, o consórcio do BRT garante que toda a infraestrutura projetada para o terminal do Parque Olímpico segue em operação.
— O movimento esperado não veio, mas mantemos todo o sistema pronto para receber o público diário previsto de 2.200 pessoas por dia — afirma a diretora de Relações Institucionais do BRT, Suzy Balloussier.
Para José Eugênio Leal, engenheiro de transportes da PUC-Rio, uma vez havendo a Olimpíada, era necessária a estrutura para receber o público do evento. Ele acredita, no entanto, que o terminal poderia ter sido construído com materiais mais leves e modulares, que pudessem ser desmontados e levados para lugares com maior demanda:
— Pelo superdimensionamento, fica um elefante branco, para o qual se deverá arcar com os custos de manutenção. Por outro lado, a região no entorno tem uma característica interessante. Há espaço para se implantar uma política de ocupação, com uma boa oferta de transporte. Foi o que aconteceu com o BRT de Curitiba, por exemplo.
Por enquanto, vale o fato de o Centro Olímpico ser um reflexo do Transolímpico, que ainda não está completo. Embora fosse uma promessa do Plano de Legados dos Jogos de 2016, o corredor não é ligado ao bairro de Deodoro, onde seria construído o Terminal Deodoro (como parte de outro BRT, o Transbrasil). Esse terminal, diz a prefeitura, sequer tem prazo para sair do papel. Segundo a atual administração municipal, isso acontece porque a passada, de Eduardo Paes, não fez a licitação. Resultado: faltam recursos para as obras.
Em linha reta, seriam cerca de dois quilômetros. Para os passageiros de ônibus, o maior benefício viria com o término das obras do Transbrasil. Mas, para os usuários dos trens, as vantagens poderiam ser imediatas. Atualmente, apenas o ramal de Santa Cruz da SuperVia chega à primeira estação do Transolímpico, na Vila Militar. Em Deodoro, o acesso seria direto também para os ramais de Deodoro e de Japeri. Facilidade que na vida de passageiros como o supervisor de segurança Hugo Cesar de Souza traria uma baita economia de tempo:
— Moro em Nilópolis e trabalho no Recreio. Pego o ramal de Japeri até Deodoro, depois espero outro trem do ramal Santa Cruz para andar uma estação, até a Vila Militar, descer e pegar o BRT. Perco, por viagem, 25 minutos nesse trajeto. Conheço muita gente que prefere ir até Madureira para pegar o Transcarioca e não fazer essa parada.
Informações: Jornal O Extra

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