Quatro linhas de ônibus têm presença garantida na lista das dez piores do Rio


As queixas de passageiros encaminhadas à Secretaria municipal de Transportes pelo serviço 1746 e pela ouvidoria do órgão fornecem dados para construir um ranking das piores linhas de ônibus da cidade, divulgado a cada três meses. A ideia era conhecer as falhas — de conservação, conduta de motoristas ou nível de serviço, como número de carros, intervalos irregulares e superlotação — para direcionar a fiscalização e solucionar problemas. Mas uma comparação entre as listas do último ano mostra que nem sempre os usuários são ouvidos. Pelo menos quatro linhas têm presença recorrente entre as dez piores.
A 865 (Pau da Fome-Taquara) aparece três vezes (por má conservação, má conduta de motoristas e serviço ruim) lista relativa ao período de março a maio de 2017.
— Quando tenho compromisso com hora marcada, saio adiantado de casa, porque o ônibus não tem horário certo. Também falta manutenção. São bancos e vidros soltos. Parece que vai desmontar — queixa-se o cenógrafo Flávio Bassan Alexandre, de 37 anos, que só nos últimos dois meses disse ter feito mais de 30 reclamações sobre a linha no 1746.
Também são garantidas na lista (quatro vezes em um ano) a 422 (Grajaú-Cosme Velho), a 922 (Tubiacanga-Aeroporto) e a 693 (Méier-Alvorada). Conduta dos motoristas e intervalo irregular são as principais queixas.
— São mal-educados, destratam passageiros e não param para idosos — reclama o jornaleiro Hugo Valério Teixeira, de 48 anos, sobre os motoristas da 422.
Já o estudante Pedro Monteiro, de 25 anos, morador do Méier, diz que a 693 some cedo das ruas.
— Só tem até as 21h.
Muito além da tolerância
A média dos pontos no “ranking negativo” é o resultado do somatório de reclamações, explica a SMTR. As linhas que apresentam média superior ao estabelecido (há tolerância de 21,94 pontos) viram alvo de fiscalização. Na classificação geral, 78 (26,2%)das 297 linhas estão acima do limite em nível de serviço, sendo que a pior de todas somou 552,08 pontos e a com menos queixas (linha 297, do BRT Transcarioca) só teve 1,23 ponto.
A SMTR informou que os consórcio estão sujeitos a sanções do Código Disciplinar e, havendo reincidência, abre-se procedimento de penalidades contratuais. Mas não explicou quais punições são nem se já foram aplicadas alguma vez.
Enquanto isso, em Tubiacanga, na Ilha, aguardar o 922 é um exercício de paciência. Para driblar a longa espera, moradores optam pelas vans, que fazem a festa no bairro.
— É a nossa salvação. Não dá para confiar no ônibus. Não tem hora certa e só faz o trajeto completo (até o aeroporto) no começo da manhã. Depois, vai só até o BRT, no Fundão — reclama a cozinheira Rita de Cássia Ferreira Dias, de 64 anos.
Em nota, entre outras coisas, as empresas informaram que os investimentos na melhoria do serviço vêm sendo prejudicados pelo não reajuste da tarifa. Confira a íntegra da nota no site do EXTRA.
Confira, na íntegra, as respostas:
SMTR
“O ranking negativo é montado com base em reclamações registradas através de diversos canais, como o 1746, e a partir dos resultados das fiscalizações da Secretaria Municipal de Transportes. As reclamações registradas também auxiliam e direcionam as ações de fiscalização do órgão.
No Transparência da Mobilidade é possível verificar as linhas com mais reclamações a partir de três relatórios: por conduta, conservação e nível de serviço. Quando irregularidades são constatadas pela SMTR, os consórcios ficam sujeitos a aplicação das sanções previstas no Código Disciplinar. Havendo reincidência, abre-se procedimento de penalidades contratuais.
Todos os descumprimentos contratuais são objetos de rotineira fiscalização do município, o qual, observando as regras inerentes ao direito de defesa dos consórcios, aplica as sanções cabíveis à luz do Código Disciplinar e do próprio contrato, como citado anteriormente.
A média dos pontos no "Ranking Negativo" é o resultado do somatório de reclamações por tipo (conduta, conservação e nível de serviço) naquele período (trimestral). As linhas que apresentam média superior ao estabelecido tornam-se objetos prioritários de fiscalização.”
As empresas
"Os consórcios Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca informam que os investimentos na melhoria contínua do serviço prestado aos passageiros vêm sendo prejudicados não só pela falta do reajuste da tarifa, como também pela falta da revisão tarifária prevista no contrato de concessão - que deveria ter sido dada pela antiga gestão municipal em 2015 -, e pelo não ressarcimento das gratuidades de estudantes universitários. Apesar desse esforço, o setor de transporte por ônibus sofre graves impactos da crise econômica que atinge o Estado e que tem provocado, por exemplo, a queda do número de passageiros nos coletivos.
O não reajuste da tarifa, que deveria ter ocorrido em janeiro último, tem contribuído para agravar a crise econômico-financeira do setor e comprometido cada vez mais, inclusive, a conservação e renovação da frota. Sete empresas encerraram suas atividades ao longo dos últimos dois anos e, atualmente, o setor tem operado com pelo menos outras 11 em graves dificuldades financeiras.
É importante destacar que o levantamento realizado pela Ouvidoria da SMTR revela queda de 45% nas reclamações sobre o sistema de transporte por ônibus, na comparação entre os cinco primeiros meses de 2017 e o mesmo período de 2016. Também houve redução de 38% nas queixas relacionadas à frota.
E vale ressaltar que o número total de reclamações registradas nos cinco primeiros meses de 2017 corresponde a 0,0016% do total de passageiros transportados nesse período no Município do Rio.
A linha 865 (Pau da Fome x Taquara) era operada pela Santa Maria, uma das sete empresas que deixaram o sistema devido a dificuldades financeiras. A operação da linha foi assumida por outras empresas do consórcio Transcarioca, em caráter emergencial, para que fosse mantida a oferta de transporte à população.
Já operação da linha 922 (Tubiacanga x Aeroporto do Galeão) tem sofrido com a concorrência desleal de Kombis e vans ilegais. As linhas 693 (Méier x Alvorada) e 422 (Grajáu x Cosme Velho) operam com a frota determinada pela Prefeitura e, no caso da 422, ela circula com veículos que têm menos de três anos de uso que sofrem com ações de vandalismo.
Em relação ao ranking de conduta, os investimentos em treinamento - além daquele que é obrigatório pela Resolução 168 do Contran - já resultaram em mais de 211 mil participações de rodoviários em ações educacionais, entre 2008 e 2016. O programa Rodoviário Cidadão formou 21.678 motoristas em 10 anos, enquanto o programa Direção por Simulador atingiu a marca de 4.500 formados desde a sua criação, há cerca de quatro anos. O programa No Ponto Certo realizou mais de 30 mil capacitações (e resultou na formulação de um Código de Conduta dos rodoviários) e o Rodoviário Carioca em Ação atingiu a marca de mais de 30 mil formados, entre motoristas e cobradores, com foco em Direção Defensiva, Relações Humanas e Primeiros Socorros.
Aliados ao treinamento, que é contínuo e aperfeiçoado de acordo com os principais fatores que influenciam no trabalho do motorista, estão os mecanismos tecnológicos de controle e fiscalização no interior dos ônibus, como GPS, tacógrafo, câmeras (presentes em todos os veículos) e sistemas detectores de manobras arriscadas, como o "Drive-Master". Todos estes avanços permitem às empresas monitorar, identificar e avaliar os profissionais que venham a cometer excessos de velocidade ou desvios de conduta no relacionamento com os passageiros.
Os consórcios também assumiram o compromisso de utilizar o ranking da SMTR para aperfeiçoar o sistema, voltando suas ações, planejamento e investimentos para atender as linhas mais citadas e garantir a satisfação dos usuários.”
Informações: Jornal O Extra

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