Usuários reclamam do desconforto em paradas de ônibus de Manaus

Passageiros usam sombrinha para se abrigar do sol em parada no bairro Alvorada -Foto: Gabriel Costa

Usuários do transporte coletivo em Manaus reclamam das paradas de ônibus na cidade, construídas com materiais inadequados ao clima, ou improvisadas. Em muitos bairros, as paradas não possuem proteção ou iluminação, o que deixa passageiros vulneráveis a assaltos. Em um ponto, localizado na avenida Coronel Cyrillo Neves, no bairro Compensa, proximidades da Ponte Rio Negro, os passageiros utilizam guarda-chuva para se proteger, pois não há cobertura.
A atendente Roberta Barbosa, de 25 anos, sente a dificuldade, quando precisa utilizar o transporte coletivo. “É difícil a nossa situação. Sofremos com esse problema constantemente. Ir e voltar de ônibus é desconfortável, não só pela situação do próprio coletivo sucateado, como também pela parada, que não conta com abrigo. A noite não tem iluminação, ficando muito perigoso”, relatou.
No bairro Compensa é possível observar outras paradas sem abrigos. Nas proximidades do Serviço de Pronto Atendimento (SPA), os passageiros tentam se esconder do sol embaixo da cobertura de um colégio estadual. A universitária Daiana Guimarães, de 22 anos, que espera o ônibus no local, reclama do descaso. A reportagem constatou o mesmo problema nas paradas da Avenida J, no bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste da capital.
“Estudo no turno da tarde e geralmente venho para a parada por volta das 13h. Nesse horário o sol está muito quente, se eu não trazer um guarda-chuva fico exposta ao sol ou a chuva. Algumas pessoas tentam se proteger embaixo de uma parte da cobertura de uma escola, mas a cobertura é pequena, não dá para todos. Em Manaus sofremos com ônibus velhos, passagem cara, paralisações e locais sem paradas”, disse a jovem, revoltada com a situação.
Na Zona Leste, o problema se repete. Ao longo da avenida Autaz Mirim, várias paradas sem abrigos, apenas com uma placa de identificação, nos postes de iluminação pública.
“É muito ruim. Passamos horas esperando o ônibus, embaixo de chuva ou do sol. Isso é um desrespeito com a população, pagamos impostos e somos obrigados a usar o transporte público sem estrutura. Ou fico queimado de sol ou molhado pela chuva, desabafa o vendedor Felipe Gomes, de 28 anos”, que mora na Zona Oeste, mas trabalha na Zona Leste.
Nos pontos onde há cobertura, a reclamação dos usuários é outra. Segundo eles, as estruturas não são adequadas ao clima. Conforme os relatos, as  construções, compostas por metal, concreto ou vidro, são pequenas, quentes e desconfortáveis.
“Quando o sol está muito quente é insuportável ficar embaixo das paradas e quando chove molha tudo, às vezes, precisamos subir em cima dos bancos para nos protegermos. Acredito que precisa ser feito um estudo sobre essas construções, falou a frentista Rosineide Gama, de 32 anos, que pega ônibus todos os dias, em frente ao 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Bis), na avenida São Jorge, Zona Oeste.
Paradas para o clima da região
Para o arquiteto André Rudá, de 26 anos, a cobertura ideal para o clima de Manaus seria com telha de barro, com o auxílio de tijolos com elemento vazado, os comungóis, para amenizar o calor. Outra opção, segundo o arquiteto, seriam coberturas que refletem a própria luz, com telhas pintadas com cores claras ou telha sanduíche, que reúnem propriedades, que isolam a temperatura e som.
“O ideal seria a telha de barro mesmo. O custo dela é muito maior, porém, existem outras mais baratas. Para amenizar o calor, pode ser usado comungol,  que além de proteger contra o sol, deixa passar a luminosidade e a ventilação. Os órgãos responsáveis precisam pensar mais no conforto do usuário”, disse o arquiteto.
André explicou ainda que, as estruturas feitas com concreto, vidro e materiais metálicos, têm uma alta condutibilidade térmica, pois, como retêm calor, a sensação térmica é de uma temperatura muito alta.
“O imobiliário urbano de Manaus está ficando cada vez mais esquecido. Curitiba, que é um modelo no imobiliário urbano, sempre esteve empenhada em trazer inovações nessas áreas. As paradas de ônibus de Manaus, com o tempo, sofreram mutações e perderam a identidade com a cidade. Além da cobertura, a parada ideal deveria ter espaço suficiente para abrigar os usuários. Em várias paradas faltam coisas simples, como cobertura adequada. O básico em Manaus não é oferecido”, completou o arquiteto.
Comparadas com outras cidades do país, Manaus está muito atrás no quesito mobilidade urbana. Em Ribeirão Preto (SP), existem paradas de ônibus que possuem ar-condicionado, aparelhos de TV e até lanchonetes. Imaginar esse cenário em Manaus, segundo o arquiteto é uma utopia.
“O desenho da cidade, com implementação de imobiliários urbanos adequados, precisa ser levados a sério pelo poder público, não só em relação a abrigos de ônibus, mas também em relação ao conforto do cidadão. Pensar em bancos, lixeiras, calçadas sem obstáculos. Com isso, a cidade estará oferecendo o básico, mas confortos fundamentais, numa cidade planejada. Imaginar paradas de ônibus com ar-condicionado, como existem em certas cidades do Sul e Sudeste, é  uma utopia, pois há a questão da segurança também”, concluiu.
SMTU
Conforme levantamento da Secretaria Municipal do Transporte em Manaus (SMTU), a capital amazonense possui 3.358 pontos de ônibus. Segundo o órgão, muitos pontos estão em locais com calçadas estreitas, que não dispõem de área mínima para a implantação de um abrigo. Além da área ocupada pelo abrigo, é preciso haver uma distância entre a cobertura e o meio fio, para que não haja colisões com os ônibus, durante as manobras de parada e saída.
Questionada se haveria um estudo para implantar um modelo de parada adequado para o clima de Manaus, a SMTU informou que, atualmente, grande parte dos abrigos de ônibus em Manaus são cobertos com telhas de barro. “O modelo considerado pela SMTU, adequado ao clima da cidade,  deve funcionar como isolante térmico e oferecer proteção contra chuvas. Os referidos modelos, de abrigos com telhas de barro, já estão disponibilizados em todas as zonas de Manaus”, informou o órgão por meio de nota.
A superintendência disse ainda, que os novos abrigos construídos pela SMTU terão telhas feitas de garrafa pet, modelo mais leves, resistentes à radiação solar, versáteis e fáceis de instalar. “O novo modelo de telhas, fabricadas a partir de garrafas pets, além de serem ecologicamente corretas, representam mais economia para ao poder público. Outras vantagens do novo modelo é impedir a ação de fungos e serem resistentes às fortes chuvas”.
De Mara Magalhães
Informações: EM TEMPO

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