VLT Guapimirim e Magé-RJ. Acidentes demonstram precariedade dos ramais de Guapimirim e Vila Inhomirim

Operados com trens a diesel e em bitola estreita a partir da estação Saracuruna (município de Duque de Caxias), os ramais de Guapimirim e Vila Inhomirim (município de Magé) destoam da renovação promovida pelo governo estadual e a concessionária SuperVia na malha ferroviária da metrópole do Rio. Dois acidentes em menos de uma semana, nos quais um ônibus e um carro colidiram com composições em movimento, trouxeram novamente à tona o debate sobre a falta de segurança, a má conservação das vias e estações, a lentidão do deslocamento e o extenso intervalo de horários.
Na tarde da última segunda-feira, a reportagem do forumrio.org percorreu os 36km do trajeto entre Central do Brasil e Saracuruna, com 19 estações, em 63 minutos, média de 0,57km/m. O trecho é operado com trens elétricos, equipados com ar condicionado e em vias de bitola larga. Para seguir viagem, o usuário troca de plataforma e de sistema. Após 34 minutos de espera, o trem a diesel deixou a estação Saracuruna. Completou os 14km até Vila Inhomirim, sete estações depois, em 46 minutos, média de 0,3km/m.
Ramal Guapimirim (Foto: Jorge Gonzaga Azulão)
Ramal Guapimirim (Foto: Jorge Gonzaga Azulão)
No caminho, trilhos sem isolamento para casas e ruas paralelas; passagens em nível (cruzamentos ferrovias-rodovias sem muros ou viadutos) oficiais e clandestinas; estações sem catracas; e plataformas irregulares e desniveladas com as portas dos trens põem em risco a vida de passageiros, pedestres e motoristas. Além disso, dão trabalho aos dois seguranças que se revezam nas composições de cada trem. Também é tarefa deles soprar um apito. É o aviso ao maquinista que as portas podem ser fechadas após embarques e desembarques nas estações. A viagem já pode prosseguir – ainda que, tecnicamente, seja possível prosseguir mesmo com as portas abertas.
“Se não fosse a luta de mais de 20 anos, já teriam desativado estes ramais. São uma espécie de patinho feio, dado que ramais como Santa Cruz e Japeri, por exemplo, movimentam mais gente. Estas locomotivas atuais são feitas para trens de carga. Têm um arranque mais lento e uma frenagem mais lenta”, analisa Luiz Cosenza, especialista em transportes, diretor do Sindicato dos Engenheiros do estado do Rio (SENGE-RJ) e conselheiro do Clube de Engenharia.
“Elas gastam cerca de quatro litros de diesel por quilômetro. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) gasta um litro a cada quatro quilômetros. É a solução mais em conta, com pequeno investimento se comparado aos trens elétricos, levando em consideração que a linha já existe. Este modelo já está implementado em cidades do Nordeste, como João Pessoal e Natal, por uma empresa brasileira, do Ceará, inclusive. Gera emprego aqui. É uma solução mais definitiva, como mostra o Projeto Central”, completa.
VLTs devem estar operando no início de 2015
“Antigamente, o trem saía lotado destas últimas estações rumo à Central. Você via até a garotada se arriscando, fazendo o famoso surfe no teto, de tão cheio. Hoje, tem pouco trem, o horário não é muito certo. Com o Bilhete Único, o pessoal prefere ir de ônibus, que oferece mais conforto. Mesmo com as obras rodoviárias, o tempo de deslocamento aumentou. O ideal seria ter o trem elétrico aqui, como tem de Saracuruna até a Central. Eu, que já trabalhei no Leblon, passei a trabalhar em Petrópolis, que é mais perto, mas nem todos têm essa chance”, comenta o gaúcho Paulo Roberto Garcia, 67 anos, morador de Duque de Caxias e usuário do trecho Saracuruna-Vila Inhomirim.
Em nota, a Secretaria de estado de Transportes do Rio de Janeiro (Setrans) afirma que os ramais de Vila Inhomirim e Guapimirim têm baixa demanda e sua estrutura comporta o volume de passageiros transportados. A Setrans informa que já foram adquiridos dois VLTs, que estarão em operação nas linhas no início de 2015. Já a SuperVia, concessionária do serviço de trens urbanos da região metropolitana do Rio, informa que o processo de aquisição dos equipamentos está em andamento via Setrans e que vem realizando a modernização das estações.
Uma das recentes melhorias foi a conclusão das obras de reforma da estação Magé (ramal Guapimirim), em abril deste ano. A estação recebeu nova comunicação visual, piso tátil, cobertura na plataforma, banheiros adaptados, rampa de acesso, revitalização da área interna, bilheterias e catracas. No ramal Vila Inhomirim, o mesmo cuidado receberam as estações Fragoso e o terminal Vila Inhomirim. Iriri e Parada Bananal estavam desativadas desde o final de 2010 e foram reabertas.
Além das obras diretamente relacionadas à via férrea e às estações, as intervenções no entorno da linha do trem são fundamentais no processo de modernização do transporte nos municípios da Baixada. Via assessoria, a Prefeitura de Guapimirim declara que o projeto de requalificação da região central da cidade, juntamente com a estação de trem, já está pronto e foi realizado pelo Vicente de Paula Loureiro, subsecretário de urbanismo do estado. A Prefeitura afirma atuar em parceria com o governo estadual na revitalização de sua malha ferroviária.
Segurança de passageiros, pedestres e motoristas é uma das prioridades
Para Luiz Mário Macaco, sindicalista, membro da coordenação do Projeto Central e morador de Guapimirim, as decisões do poder público não podem privilegiar o modelo rodoviário. “Transporte de massa de verdade é o ferroviário: trem, VLT e preservação. Nossa luta pelos trens da Baixada já está completando 30 anos. Só com muita mobilização, conquistamos os avanços. De lá para cá, houve a chegada dos trens elétricos, mas não em todos os ramais. Sabemos que o que define é a questão dos custos e a vontade política”.
Na última semana, houve duas colisões com composições em Guapimirim: uma,  envolvendo um ônibus, deixou mais de vinte feridos. Os ramais de Guapimirim e Vila Inhomirim, a partir de Saracuruna não estão isolados do trânsito do entorno. A Prefeitura de Guapimirim considerou “fatalidades isoladas” os acidentes, assinalando que “toda a sinalização prevista em âmbito federal é respeitada: buzina do trem, semáforo, campainha de passagem de nível e placas de sinalização”. Já a Supervia afirma que “o respeito é a melhor forma de evitar acidentes” ao longo dos 270km de linha férrea.
Estação de Saracuruna (Foto: Jorge Gonzaga Azulão)
Estação de Saracuruna (Foto: Jorge Gonzaga Azulão)
A concessionária também considera indispensável o isolamento completo da área restrita à circulação dos trens e apoia o projeto “Segurança na Via”, do governo do estado. O objetivo é realizar a segregação total da linha férrea com a construção de muros, passarelas e viadutos. A implantação dessa iniciativa depende do poder público, pois envolve soluções urbanísticas de acessibilidade, desapropriações e programas sociais.
Segundo a Setrans, a secretária de Transportes, Tatiana Carius, esteve em reunião com a Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, em Brasília, no último dia 13 de novembro, e fechou acordo para liberação de 100 milhões de reais, com recursos do PAC, para a primeira fase do projeto. No total, o orçamento gira em torno de 600 milhões de reais. O contrato, no entanto, ainda não foi assinado.
A primeira fase contemplará o município de Duque de Caxias com a construção de dois viadutos – um no bairro Jardim Primavera e outro em Campos Elísios –, além de seis passarelas. Também serão construídos 11km de muros nos ramais Saracuruna, Vila Inhomirim e Guapimirim. O projeto prevê a construção de 15 viadutos, 31 passarelas e 27km de muros ao longo de cincos ramais da SuperVia – para fechar cerca de 40 passagens de nível oficiais e 150 clandestinas -, além de reurbanização da área do entorno dessas estações.
Fonte: Forum Rio

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