Maceió-AL. Mobilidade urbana não acompanha crescimento da frota de carros em AL
Maceió conta hoje com cerca de 280 mil veículos em circulação.
Infraestrutura da cidade não recebe investimento para suportar aumento.
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“Um carro”, respondeu prontamente a secretária Josilene Lessa, 33, quando perguntada sobre o que compraria se tivesse um poder aquisitivo maior. Assim como ela, muitos outros alagoanos carregam consigo o desejo de adquirir um automóvel. As facilidades ofertadas pelo mercado e os incentivos fiscais já levaram muitos consumidores a realizarem esse sonho. Mas o que resolve uma necessidade individual acaba contribuindo para um problema que afeta toda a população: a falta de mobilidade urbana.
Aumento na frota de veículos acontece sem avanços na infraestrutura da cidade (Foto: Jonathan Lins/G1) Atualmente circulam nas ruas de Maceió cerca de 280 mil veículos automotores, de acordo com um levantamento divulgado pelo Departamento Nacional de Transito (Denatran) no mês de outubro. Os dados revelam que a frota cresceu 38% nos últimos cinco anos. Em comparação com a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pode-se dizer que existe na capital alagoana um carro para cada 3,5 maceioenses.
No período de doze meses, de outubro do ano passado a outubro deste ano, as ruas de Maceió ganharam 16,8 mil novos carros. Em matemática simples, a cada mês cerca de 1,4 mil veículos passaram a dividir espaço no trânsito da cidade.
De acordo com o especialista em trânsito e mobilidade urbana Antônio Fachneti, o número é alarmante. “A frota de veículos tem aumentado assustadoramente em relação ao crescimento da população. As pessoas alimentam o sonho americano de ter o próprio carro, mas esquecem que não podemos comparar o Brasil com o Estados Unidos, que tem todo um planejamento. Nossas avenidas e estradas são estreitas e o poder público tem dificuldade de fazer as adequações necessárias”, explica.
Mas o especialista reconhece que a população não tem muita escolha. “É como diz aquele velho ditado, ‘se correr o bicho pega, se ficar o bicho come’, porque, ao mesmo tempo em que a aquisição de veículos é prejudicial à coletividade, as pessoas não têm à disposição um transporte público adequado, então não se veem motivadas a abandonar carro.
Ruas de Maceió já não comportam o número de veículos que circulam pela cidade (Foto: Jonathan Lins/G1)
Paliativo
Na tentativa de desestimular o uso do carro e desafogar o trânsito, a prefeitura de Maceió implantou a onda verde, a faixa azul e planeja instituir, a partir de janeiro de 2015, oestacionamento rotativo pago em algumas ruas da cidade. O decreto, publicado no Diário Oficial do Município (DOM), determina que cada vaga terá um período limitado de permanência. Caso o condutor do veículo ultrapasse, irá pagar uma taxa pela ocupação.
No entanto, para Fachneti, essas medidas são paliativas. “Todas essas ações, e até mesmo os rodízios, são emergenciais. Não há um estudo para se verificar quais são as verdadeiras necessidades. É preciso um planejamento mais globalizado. As medidas chegam sempre depois do problema e isso não deve ser regra”, destaca.
Economia x mobilidade urbana
Para conter os avanços da inflação, o governo oferece incentivos fiscais à população e às indústrias, reduzindo a carga tributária. Em 2012 o governo federal zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros nacionais de até 1.000 cilindradas, reduziu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para financiamentos, aumentou o prazo para compra parcelada de veículos e ainda forneceu juros menores do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para empresas.
Engarrafamentos são frequentes em Maceió
(Foto: Jonathan Lins/G1)
Essas medidas motivam o aumento da produção e encorajam a aquisição de mais veículos pela população, o que auxilia a economia. Em contrapartida, os espaços destinados ao tráfego continuam os mesmos. “A quantidade de veículos aumenta absurdamente, mas não há avanços na infraestrutura da cidade. As vias continuam as mesmas. Os incentivos visam a economia, mas se esquecem completamente da mobilidade urbana”, lembra Fachneti.
Expansão irregular
A capital de Alagoas tem enfrentado uma onda de crescimento que pode parecer positiva, mas as irregularidades e a falta de planejamento são fatores que contribuem para a diminuição do gargalo. “Falta educação na população. É por isso que tem tanta invasão às faixas de domínio e, consequentemente, mais e mais construções perto das pistas, como se vê na Via Expressa, por exemplo. Como não há fiscalização eficiente por parte do poder público, as pessoas tomam conta mesmo desses locais, o que acaba prejudicando o fluxo”, pontua o especialista.
O investimento em expansão imobiliária também tem uma participação expressiva quando o assunto é falta de mobilidade. “O crescimento das cidades tem acontecido de forma horizontal, ou seja, cada dia surge mais um prédio nas ruas de Maceió. Muita vezes uma casa que abriga, digamos, dois carros, dá lugar a uma construção com diversos andares e inúmeros apartamentos. Se cada morador tiver um carro, o tráfego na rua, que continua sendo a mesma, se torna inviável. O caos já se instalou”, alerta Fachneti.
Reeducação da população
Na casa da empresária Izabel Rodrigues moram seis pessoas e quase todas possuem carro. São quatro no total. “Eu tenho um, meu irmão e minha irmã também têm e o quarto carro fica com meu pai. Minha mãe não tem porque não precisa. Ela tem um do trabalho à disposição. Durante o dia dois carros saem da garagem de certeza. Normalmente é à noite que todos circulam porque cada um sai com o seu”, conta ela.
De acordo com Fachneti, a média em Maceió é de 1,3 passageiros por cada carro, o que é muito baixo para um único veículo. “Falando o óbvio, é um meio de transporte que, na maioria das vezes, ocupa um espaço enorme para deslocar apenas uma pessoa”.
“Legislação não falta sobre mobilidade urbana. O que falta mesmo é mudar a cultura da população. As pessoas precisam entender que o carro não é o único meio de locomoção. Sabemos que o transporte público de Maceió não é dos melhores, mas não deixa de ser uma opção e tem também as bicicletas. Até mesmo os táxis devem ser considerados, porque, se fizermos as contas, veremos que gastar com táxi sai mais barato do que manter um carro”, diz Fachneti.
Fonte: Portal G1 Alagoas
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