Rio de Janeiro e a Modernização fora do lugar
Pensar na modernização da cidade do Rio de Janeiro, é pensar com um olhar critico ao projeto de modernização apresentado pelo prefeito Pereira Passos no inicio do século XX. A proposta do meu trabalho é justamente mostrar o lado critico do projeto que não deu certo para o município carioca. Por ser tratar de um projeto de modelo europeu, não se enquadrou a realidade do Rio de Janeiro do inicio do século XX.
Segue abaixo minha resenha que eu elaborei a partir do olhar critico ao Projeto Pereira Passos.
Segue abaixo minha resenha que eu elaborei a partir do olhar critico ao Projeto Pereira Passos.
Rio de Janeiro e a modernização “fora do
lugar”
Jorge Luiz de Mattos Filho
(Graduação em História da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro)
Palavras-chave:
urbano, cidade, política social
Resumo
O propósito
deste trabalho é fazer uma critica ao modelo de modernização implementado na
cidade do Rio de Janeiro. Para abordar a critica deste modelo, me baseei na
obra de Robert Moses Pechman, no qual usou o conceito da
teoria-higienista/urbanística para explicar como esse conceito influenciou no
pensamento dos intelectuais da época para construção de uma imagem de capital
civilizada para a cidade carioca. Junto à teoria, o autor também fez uma
critica ao modelo de urbanização francês
que serviu de inspiração para o embelezamento do centro carioca. O
grande problema dessa discussão, é a comparação entre a realidade em que o Rio
de Janeiro vivia no contexto da 1ª República do Brasil e a realidade em que a Europa
encontrava-se entre os finais do século XIX e inicio do século XX, neste caso o
autor chamou atenção na aplicação deste projeto urbano europeu para um país de
predomínio rural. Como se trata de um
projeto copiado, não se enquadrou a nossa realidade, funcionaria apenas para os
europeus que já haviam passado pela Revolução e pelo processo de urbanização.
Por ultimo, o autor apontou os efeitos que esse projeto de modernização trouxe
para o Rio de Janeiro. Para o autor, a reforma urbana favoreceu ao processo de
desordenamento urbano criando novos problemas para a cidade.
Introdução
No inicio do
século XX, a cidade do Rio de Janeiro viveu seu processo de modernização com a
reforma urbana implementado pelo prefeito Pereira Passos na 1ª República, porém
esse projeto criou uma série de problemas para a cidade: a desorganização do
espaço urbano com o crescimento desordenado da cidade e o processo de
segregação social entre classes. Para entendermos as raízes destes problemas, é
preciso entender primeiro o contexto em que o Rio de Janeiro se encontrava na
época e os pontos críticos desse projeto de modernização implementado na cidade
carioca.
Contexto do Rio de Janeiro e um modelo que
não deu certo
Para situar o
contexto do Rio de Janeiro, primeiro temos que saber o contexto que o Brasil se
encontrava. O Brasil na 1ª República era um país agrário exportador de produtos
primários, o que significa dizer, que toda sua estrutura econômica e política
estava voltada para o campo, desde o período colonial as principais atividades
econômicas eram agrárias . Pechman chama atenção com relação à diferença entre
um país agrário ,que era o Brasil e um país industrial, por exemplo à
Inglaterra. Enquanto na Inglaterra a modernização ocorreu dentro do processo de
urbanização a partir da Revolução Industrial, no Brasil essa modernização
ocorreu em um contexto distinto, dentro do período da 1ª Republica brasileira.
No período da 1ª República, a população rural predominava mais do que a
população da cidade, além disso, a elite que controlava o poder político, era
ligada às oligarquias rurais do café.
Outro processo
que separa o Brasil da Europa, é enquanto na Europa o processo de modernização
do espaço urbano havia sido implementado junto a um projeto de política social,
no Brasil não houve discussão sobre política social, o que estava em jogo era a
construção de uma identidade nacional. Diferenciando do conceito de
“maquinarias do conforto” apontado por François Beguin, o Rio de Janeiro não
passou pelo projeto de política social, como aconteceu na Inglaterra durante a
Revolução Industrial. Preparar uma cidade para modernização significa também
preparar a população para se adaptar a nova realidade social, não foi o que
aconteceu. Enquanto na Inglaterra, além
da reforma no espaço urbano, ocorreu reforma nos domicílios, as casas ganharam
novas instalações, por exemplo, os banheiros com vasos sanitários permitiram
que os dejetos não ficassem expostos ao ar livre favorecendo para a melhoria
das condições de higiene nos lares. Neste caso, era fundamental pensar na
melhoria das condições de vida por vários fatores: influenciar no mundo do trabalho permitindo
que essa mão-de-obra estivesse em boas condições físicas daí a preocupação do
conforto dos lares desses trabalhadores, diminuir o surto de doenças infecto
contagiosas que assolavam a cidade. Já no Rio de Janeiro, os cortiços foram botados a baixo e as pessoas
que moravam nesses cortiços ficaram desabrigadas sem alternativas. Pechman
criticou o projeto de modernização que teve como foco principal melhorar as
condições de higiene sem pensar em um projeto de instalação de fossas
sanitárias nos domicílios. Sem outra opção, essas pessoas buscaram regiões fora
do centro carioca, principalmente as margens da linha férrea. Essa emigração de
pessoas levou ao crescimento de região suburbana carioca causando um
desordenamento urbano na cidade. Outra diferença encontra-se nos grupos
sociais. Enquanto na Inglaterra o crescimento industrial permitiu que o
proletariado se agrupasse nas cidades favorecendo ao crescimento de bairros
operários a organização do sistema capitalista criando relações entre os meios
de produção e a mão-de-obra, no Rio de Janeiro quem tomou conta dos cenários
urbanos, foram imigrantes estrangeiros e nacionais, alem de escravos libertos. O
caso do Rio de Janeiro, foram grupos que não se enquadraram na concepção
urbanística.
O processo de
desordenamento urbano criou uma série de problemas na distribuição dos serviços
públicos cariocas. O Rio de Janeiro desde a metade do século XIX passou pelo
processo de criação de serviços públicos como transporte, iluminação publica,
gás e industria. Antes da modernização de Pereira Passos, as companhias de
serviço urbano encontravam-se nas
regiões centrais da cidade o que facilitava o acesso a qualquer tipo de serviço,
mas com o crescimento desordenado carioca, essas companhias não conseguiram
acompanhar a evolução urbana trazendo graves conseqüências na parte de
infra-estrutura: a falta de iluminação pública em alguns bairros, a falta de
acesso à rede de esgoto, transporte precário e a favelização. Até hoje, os
problemas urbanos enfrentados pelos moradores do subúrbio carioca, foram
resultados da expulsão da camada pobre da população do centro urbano carioca.
Outra critica
feito por Pechman, foi com relação ao modelo de modernização adotado pelo Rio
de Janeiro. O modelo de modernização foi baseado em um modelo francês que não
foi bem aplicado para a cidade carioca. Desde o século XIX, com a vinda da
Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, a cultura francesa sempre esteve muito
presente na cidade, com a vinda de artistas e intelectuais. A presença da
cultura francesa influenciou diretamente no mundo da arquitetura, permitindo
que os arquitetos apresentassem um projeto de modernização no cenário urbano
carioca. O Rio de Janeiro, junto à influência cultural francesa ganhou status e
ficou conhecido como Paris Tropical ou Cidade Maravilhosa. O ponto chave dessa
discussão é que foi uma modernização que não partiu de um projeto nacional ,as
sim de um projeto estrangeiro, ou seja, foi um objeto copiado, por isso que
chamamos de modernização “fora do lugar”, ou seja uma modernização de caráter
estrangeiro que não se encaixou a cidade do Rio de Janeiro. Junto à presença do
modelo francês, de um lado a critica ao antiurbanismo esteve muito presente no
1º período republicano brasileiro trazendo um sentimento do antiindustrialismo,
mas por outro lado, o campo é visto como um espaço superior à cidade dentro do
mundo agrário, essa idéia da superioridade rural era aceita pelos movimentos
ideológicos e políticos da época. Dentro da idéia da superioridade rural, a
solução dos problemas nacionais do
Brasil estava na reestruturação do setor rural, tirando o foco da cidade, os
homens deveriam procurar o campo para ocupar, o Rio de Janeiro, por exemplo, encontrava-se
dentro da esfera do artificialismo da ideologia liberal republicana.
Além da critica
do modelo de modernização, Pechman criticou a atuação dos médicos-higienistas
no Rio de Janeiro. Para o autor, embora, a cidade convivesse com as epidemias
de febre amarela, “os problemas urbanos” só
passaram a existir depois do projeto de intervenção no centro urbano carioca com a ajuda dos
sanitaristas. Estes médicos-sanitaristas basearam-se na teoria higienista/urbanística
européia definida a partir da construção de uma capital moderna de caráter
civilizada. Na visão de Roberto Machado a medicina social é uma medicina
urbana. A intervenção higienista conseguiu resolver o problema das epidemias
que assolavam a capital carioca, mas não conseguiu acabar com todas as doenças
que estavam presentes na cidade, a tuberculose por exemplo, continuou fazendo
muitas vitimas, principalmente as camadas mais pobres da população.
Outro problema
que a intervenção urbana, foi o agravamento nas condições de moradia e
habitação. Com a modernização e a intervenção do centro urbano carioca, novos
problemas surgiram nas outras áreas da capital: nos bairros suburbanos e na
Baixada Fluminense. O que faltou para o Rio de Janeiro foi à participação
política do Estado no projeto de intervenção urbano, ao contrario que aconteceu
na Inglaterra, o Estado passou a intervir mais nos projetos políticos urbanos,
causando impactos também nos domicílios.
Bibliografia
RIBEIRO, Luiz
César de Queiroz e PECHMAN, Robert. Cidade Povo e Nação. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
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